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Clóvis Rossi

Dilma e os dois lados da Ucrânia

Por achar que a questão é complexa, como de fato é, o Brasil prefere não tomar posição sobre o assunto

Nos atos públicos desta segunda-feira (14), nem Dilma Rousseff nem Vladimir Putin tocaram no tema Ucrânia. A palavra nem sequer apareceu nas breves saudações que os dois mandatários trocaram no Palácio Itamaraty, nas quais celebraram a parceria estratégica entre seus países.

Mas a falta de menção a ela não significa que esteve ausente da agenda da presidente. Ocorreu exatamente o contrário: Dilma ouviu os dois lados da história.

Primeiro, no domingo, a chanceler alemã, Angela Merkel, fez o relato de por que seu país condena a anexação da Crimeia pela Rússia, motivo pelo qual aplicou sanções à Rússia (brandas, é verdade, mas sanções).

Na segunda-feira, foi a vez de Putin dar a sua versão. Pelo que a Folha ouviu no Palácio do Planalto, o presidente russo acredita que o novo governo ucraniano enfrentará terríveis dificuldades sociais logo à frente se aceitar, como Putin acredita que o fará, o pacote de socorro que está sendo negociado com o Fundo Monetário Internacional.

São os termos conhecidos desde sempre e que ajudaram a afundar na recessão os países europeus que tiveram que aceitar ajuda do FMI/Banco Central Europeu/União Europeia (Portugal, Grécia e Irlanda). Para não mencionar os que não foram ao Fundo, mas enfrentaram tremendas dificuldades ao adotarem receitas parecidas (Itália e Espanha, por exemplo).

Se, na versão de Putin, o novo governo ucraniano terá dificuldades mais à frente, não faria muito sentido para a Rússia apressar-se em legitimá-lo, o que implicaria ajudar a desarmar os rebeldes de Donetsk, a região ucraniana que se revoltou contra o novo governo do país e se recusa a reconhecê-lo.

Com qual das duas versões Dilma concorda? Ela evitou dar à Folha uma resposta direta, preferindo dizer que se trata de "uma questão muito complexa".

É essa complexidade que explica a cautelosa posição brasileira, que, por exemplo, se absteve na votação na ONU sobre a anexação da Crimeia.

No Itamaraty, a explicação não oficial até faz sentido: não dá para o governo brasileiro dar aval a um golpe de Estado, como foi a deposição de Viktor Yanukovich --embora um golpe atípico porque praticado não por militares ou políticos, mas pela massa reunida na rua.

Mas tampouco dá para aceitar uma ocupação disfarçada de território alheio, como a Rússia fez na Crimeia, para depois anexá-la.

A abstenção, no caso, não significa que o Brasil não tenha posição, sempre segundo a versão ouvida no Itamaraty. Significa que as duas possibilidades em jogo eram ruins e continuam sendo, daí o silêncio em público sobre o assunto, mesmo em uma visita oficial do principal personagem envolvido na história, o presidente Putin.

Ele, aliás, nada pediu a Dilma sobre o tema ucraniano, segundo ela própria. A parte russa até sugeriu que não houvesse o tradicional comunicado conjunto de ocasiões semelhantes, porque, aí sim, a Ucrânia teria de aparecer --e seria um problemão para a diplomacia brasileira.


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