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Depoimento

Wallenberg salvou minha vida, diz judeu em São Paulo

DE SÃO PAULO

O "húngaro-paulistano" José Gabriel Weinberger, 81, recebeu a Folha para um depoimento emocionado no qual lembrou sua mudança, ainda criança, para uma das casas amarelas que, em Budapeste, eram protegidas diplomaticamente, por iniciativa de Raoul Wallenberg.

Nascido de uma família judia não ortodoxa em Budapeste, ele só ouviu falar de Wallenberg muitos anos depois, já formado em engenharia e morando na Holanda.

Abaixo, o depoimento de Weinberger.

-

Nasci em 9 de julho de 1933, em Budapeste, onde morei até os 22 ou 23 anos. Atravessei a Segunda Guerra como criança. Depois, ainda na Hungria, vivi sob o regime comunista pró-soviético.

Até os seis anos, só tive boas recordações. A partir de 1939, numa época de antissemitismo marcada por leis promulgadas pelo partido nazista alemão, minha vida mudou. Essas leis, também adotadas pelo governo húngaro, limitavam as atividades dos judeus na vida pública, no comércio e na indústria.

Nossa família foi obrigada a se desfazer de uma taverna, que funcionava desde 1896.

Meu pai, Weinberger Jenö, foi enviado a um campo de trabalho forçado. Ao voltar, em 1945, veio com uma grave infecção na perna --em decorrência disso, faleceu em casa, no mesmo ano.

A essa altura, fomos forçados a mudar para um prédio amarelo, numa região onde viviam vários outros judeus. As autoridades húngaras editaram um decreto estabelecendo que os judeus em Budapeste passassem a viver confinados, em prédios marcados pela estrela de Davi. Hoje sei que meu prédio estava sob proteção sueca.

Há 70 anos, quando eu tinha 11, o nome Raoul Wallenberg não significava nada para mim. Mas descobri depois: ele salvou a minha vida e a de quase toda a minha família.

Minha mãe, à época com 44 anos de idade, conseguiu o documento emitido pelo consulado da Suécia [o "schutz-pass"].

E foi isso que nos permitiu, finalmente, mudar para um prédio num bairro judeu de classe média alta, sob proteção diplomática sueca.

Ficamos lá por quatro meses, até que, em janeiro de 1945, o Exército Vermelho ocupou Budapeste, e os russos trouxeram a liberdade.

Minha mãe, minha irmã e eu voltamos, então, para o nosso apartamento original.

A boa notícia é que, embora o apartamento tivesse sido cedido para outras pessoas, nossas coisas ainda estavam lá, o que mostra que, dentro dessa barbárie toda, havia gente boa.

Formei-me engenheiro civil em Budapeste, já sob a égide do regime pró-URSS. Mas, em 1956, diante do confronto entre as forças leais ao regime soviético e os que a ela se opunham, fugi da Hungria.

Depois, morei na Holanda e, de lá, fui para o Uruguai com minha irmã.

Morei lá até 1957, com status de refugiado político. Queria viver num mundo com mais oportunidades e menos antissemitismo.

Até então, pouco atinava para o que era o Brasil para além do futebol, do calor e do mar. Mas aqui me instalei, em 1962 --e virei um judeu com alma brasileira.

Desde então, já se passaram 52 anos.


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