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O naufrágio de um herói

De Falco, oficial que salvou vidas no Costa Concordia, em 2012, foi afastado de chefia; já Schettino, o então capitão do navio, deu palestra em universidade romana

DE SÃO PAULO

"Volte a bordo!", ordenou o oficial da marinha Gregorio de Falco num telefonema áspero ao capitão Francesco Schettino, protagonista desastrado do naufrágio do transatlântico Costa Concordia, que se chocou contra as pedras na ilha de Giglio, numa noite gélida em 13 de janeiro de 2012, matando ao menos 32 pessoas.

Hoje, numa Itália ameaçada por grave crise político-econômica e onde não está descartada uma greve geral, De Falco, o herói que liderou o resgate na ausência do capitão, foi afastado de suas funções de comando na capitania dos portos e constrangido a assumir funções administrativas. Ele diz ter sido informado por seu superior que deixará a chefia.

Enquanto isso, Schettino, o "vilão" do afundamento num setor em que desastres são raríssimos, foi convidado, em agosto último, a proferir palestra num seminário de criminologia na Universidade La Sapienza, em Roma--convite que indignou meio mundo por estar ocorrendo num dos maiores centros de ensino da Europa.

Estranhamente, passados mais de dois anos e oito meses desde que o então maior e mais luxuoso transatlântico da Costa Cruzeiros adernou em área bastante conhecida e navegada no mar Tirreno, transportando 3.229 passageiros e 1.023 tripulantes, é De Falco --e não Schettino-- que tem concedido entrevistas em tom amargurado.

"É como se um professor, amante da didática e da pedagogia, tivesse que deixar a cátedra", tem afirmado o oficial sobre seu próprio afastamento de um posto de chefia.

"Sou um militar", também declarou Gregorio de Falco, 50, quando perguntado, pelo diário "La Repubblica", sobre ter ou não ter ambições políticas. Cogita-se até que ele possa abandonar a farda. Também especula-se se De Falco não estaria sofrendo assédio moral e se não poderia entrar na Justiça italiana questionando sua remoção.

INVESTIGAÇÃO

Federico Gelli, deputado do Partido Democrático, de centro-esquerda, tem pedido investigação sobre a mudança de função.

"Em todo o mundo, De Falco se tornou um símbolo da Itália que tenta superar um desastre", diz Gelli, clamando por um esclarecimento público e questionando se haveria relação direta entre a transferência de De Falco e o julgamento das causas do acidente na Justiça.

Nesse processo, Schettino, recém-fotografado se divertindo à beira-mar na ilha de Ischia, responde por diversas acusações, entre as quais a de ter abandonado o navio, o que ele nega.

Noutro paralelo inevitável com a grave crise que ronda a Itália, a demora para o início do desmantelamento do Costa Concordia, depois de um resgate cinematográfico que o fez flutuar até Gênova, no último dia 27 de julho, também soa como um símbolo de imobilidade.

Seus guardiões têm dito que o interior do transatlântico de cruzeiro se parece ao de um navio fantasma. E afirmam que o cenário é o de um "inferno onde uiva um vento ameaçador", mencionando o "libeccio", nome do vento invernal que sopra na maior cidade portuária italiana.

No início dos trabalhos de resgate, em 17 de setembro de 2013, o navio, que passou 20 meses parcialmente submerso junto à costa de Giglio, estava inclinado num ângulo de 80 graus e precisou ser girado. O custo da operação foi de US$ 795 milhões de dólares (R$ 1,9 bilhão).


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