Folha de S.Paulo

Telefonia preocupa inteligência dos EUA

ERIC LICHTBLAU DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Um obscuro contrato federal para definir a companhia encarregada de rotear milhões de telefonemas e mensagens de texto nos EUA causou uma batalha com dirigentes dos serviços de inteligência americanos, para quem segredos de vigilância nacionais podem estar em risco.

A empresa que conquistar o contrato agirá como uma espécie de controlador de tráfego aéreo para o sistema de telefonia dos EUA.

Como uma empresa europeia é a favorita para assinar o contrato, funcionários e ex-funcionários dos serviços de inteligência se dizem preocupados com a possibilidade de que a capacidade para rastrear dados telefônicos em investigações policiais e de terrorismo seja prejudicada.

Uma pequena companhia da Virgínia, a Neustar, é a encarregada da tarefa desde o fim dos anos 90, mas uma comissão do setor privado de telefonia recomendou à Comissão Federal de Comunicação (FCC, na sigla em inglês) que o contrato seja concedido à divisão americana da sueca Ericsson. Ainda não há decisão final.

Num esforço para reter o contrato, avaliado em US$ 446 milhões, a Neustar contratou Michael Chertoff, ex-secretário da Segurança Interna dos EUA.

Em relatório que a Neustar planeja encaminhar à FCC nesta semana, Chertoff, hoje consultor, argumenta que as preocupações quanto à segurança nacional foram desconsideradas na licitação.

Sem avaliação mais completa dos riscos de transferir o contrato a uma empresa europeia, "a segurança poderia se tornar obsoleta diante de ameaças sempre mutáveis", diz Chertoff. "Seria grande vantagem para os serviços de contrainteligência dos adversários da nação."

O FBI e outras agências policiais informaram que, embora "não estejam na posição" de ditar quem deve ficar com o contrato, gostariam de garantir que suas necessidades sejam atendidas.