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Opinião
Presidente exibe desprezo por política externa
Na entrevista após discurso na ONU, Dilma ignorou informações que certamente foram oferecidas pelo Itamaraty
A passagem da presidente Dilma Rousseff, no final de setembro, pelas Nações Unidas continua a despertar controvérsias.
No afã de tentar explicar o inexplicável, o ministro das Relações Exteriores e o assessor internacional da presidência vieram a público para esclarecer o teor do discurso da presidente, diante de todos os países-membros, no tocante à atitude em relação ao Estado Islâmico: não teria havido qualquer indulgência no tratamento ao Estado Islâmico como organização terrorista, nem a disposição de dissuadir os terroristas pelo diálogo.
Segundo eles, o discurso lido pela presidente reitera a tradicional posição do governo brasileiro contra ataques unilaterais a terceiros países, sem a aprovação do Conselho de Segurança no âmbito do capítulo 7 da Carta da ONU.
E alegam que a repercussão negativa ficou por conta da associação eleitoreira entre a desinformação e a má-fé por parte de alguns analistas da política externa brasileira.
O fato grave é que seus assessores afirmam publicamente que não houve qualquer decisão do Conselho de Segurança autorizando os ataques ao Estado Islâmico e ainda insistem em que as observações críticas foram dirigidas ao discurso, o que dá margem para a interpretação de que a proximidade das eleições de fato ensejou a associação entre a desinformação e a má-fé, mas por parte de alguns assessores.
O problema não está no discurso, mas no que ela disse na entrevista concedida em seguida.
Nessa entrevista, ao lamentar os ataques ao Estado Islâmico, mais uma vez, ficaram expostos o amadorismo e a falta de informação, quando a presidente mostrou desconhecer que a ONU --ao contrário do que disseram os assessores-- havia aprovado, sim, por unanimidade, poucos dias antes, a resolução 2178, dentro do capítulo 7 da Carta das Nações Unidas, que autoriza o uso da força para conter a violência terrorista a fim de proteger as populações do genocídio, de crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a humanidade.
Certamente ela também terá sido lembrada pelo Itamaraty de que o Brasil está obrigado a respeitar a referida resolução e a utilização do uso da força, como prescreve a tradicional posição brasileira. Nessa linha, o papa Francisco, a Síria (que não protestou sobre a violação de sua soberania), o Iraque, a Rússia --que reclamou dos ataques ao Iraque e à Síria, mas não dos ataques ao Estado Islâmico-- e o Irã apoiaram o uso da força para conter o grupo terrorista.
Na entrevista, a presidente ignorou uma decisão global e ficou na companhia de Cuba e da Venezuela ao repudiar os ataques e pedir conversações com o outro lado, como se isso fosse possível.
Ignorar as informações que certamente o Itamaraty deve ter oferecido a ela diante de um problema tão complexo, como o dos diferentes aspectos da crise no Oriente Médio, confirma o menosprezo presidencial pela política externa e a marginalização do Ministério das Relações Exteriores.