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Análise/Prêmio

Nobel joga luz sobre questão 'invisível' na Índia

Trabalho escravo infantil afeta milhões de pessoas no país, o campeão na exploração da mão de obra de crianças

PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO

Enquanto a paquistanesa Malala Yousafzai já tinha status de celebridade mundial antes de ganhar o Nobel, o indiano Kailash Satyarthi era um virtual desconhecido até em seu próprio país. O prêmio ajuda a jogar luz sobre um problema que é pouco discutido pela mídia: o trabalho escravo infantil na Índia.

A Índia é o país com o maior número de crianças abaixo de 14 anos que trabalham --12 milhões segundo o último censo indiano, ou 28 milhões segundo a Unicef.

O trabalho infantil está por toda parte: fábricas de fogos de artifício, minas de carvão, lavouras, tecelagens, lojas e oficinas.

Mas o mais surpreendente é ver crianças como empregadas domésticas em condições de trabalho escravo, na capital, Nova Déli, e outros centros urbanos.

Quando fui à Índia em 2013, conversei com mulheres que haviam sido resgatadas por ONGs de seus "empregos" como domésticas.

As histórias eram parecidas. Elas vinham crianças de vilarejos em Estados pobres, porque agenciadores convenciam seus pais de que teriam bons empregos na capital.

Lá, ficavam presas em uma casa com outras mulheres e crianças, e muitas vezes eram estupradas. Eram vendidas para alguma casa ou restaurante, onde trabalhavam noite e dia sem pagamento, em troca apenas de comida, e nunca podiam sair.

Na maioria das vezes, as crianças escravizadas são hindus de castas intocáveis ou muçulmanas. Os pais as "vendem" para pagar dívidas, elas são raptadas ou enganadas por agenciadores.

Outras vezes, não são escravas, mas deixam de estudar porque precisam ajudar seus pais. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, começou a trabalhar aos seis anos na banquinha de chá que seu pai montava em uma estação de trem.

A ONG de Satyarthi, Bachpan Bachao Andolan (Movimento Salve as Crianças), faz "batidas" em locais que empregam crianças, criou um selo "livre de trabalho infantil" para tapetes e promove reintegração das crianças.

"Se não agora, quando? Se não você, quem? Se pudermos responder essas perguntas fundamentais, talvez possamos limpar a mancha da escravidão humana", disse Satyarthi.

Dentro da Índia, há certa controvérsia em relação a ele. "Ele é acusado de desfilar nas capitais dos países ocidentais com crianças indianas para conseguir recursos para sua organização", diz Shobhan Saxena, correspondente do jornal "Times of India" no Brasil. "Outros ativistas eram mais merecedores do prêmio."

O governo indiano passou uma emenda de lei vetando trabalho para crianças abaixo de 14 anos --mas a fiscalização é pífia.

Em pesquisa feita pela ONG CRY em julho, com mais de 300 "patrões" que empregam crianças de 5 a 14 anos, metade sabe que há uma lei proibindo, mas continua fazendo. Segundo eles, crianças são "mais submissas, disponíveis e baratas" e "trabalham sete dias por semana, mais de oito horas por dia".

O ataque que Malala sofreu do Taleban trouxe para o centro do debate a educação das mulheres no Paquistão, nas regiões tribais. A área continua dominada por extremistas e o problema não foi resolvido. Mas não era uma questão invisível como o trabalho infantil na Índia.


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