Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Islamitas acusam oposição de conspiração

Para porta-voz da Irmandade Muçulmana, Constituição que vai a referendo amanhã é a 'melhor Carta' que Egito já teve

País vive uma de suas piores crises desde a revolução de 2011, que derrubou o então ditador Hosni Mubarak

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Às vésperas do referendo constitucional que mergulhou o Egito numa das piores crises desde a revolução de 2011, os islamitas que governam o país acusam o antigo regime de uma conspiração para derrubar o presidente.

"Eles têm dinheiro roubado de sobra e estão usando as forças de oposição como fachada para sabotar um presidente eleito democraticamente", disse à Folha o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Mahmoud Gozlan.

O discurso reflete a intensa polarização vivida pelo Egito nas últimas semanas.

Brigas entre liberais e islamitas deixaram pelo menos dez mortos e centenas de feridos, devolvendo ao Cairo as barricadas do Exército e a atmosfera de confronto que se tornaram a marca da turbulenta transição egípcia.

No centro dessa controvérsia está o projeto de Constituição que irá a votação popular em duas fases, amanhã e no próximo sábado.

A oposição faz campanha pelo "não", afirmando que o viés islâmico do texto põe em risco as liberdades civis.

A crise começou no dia 22, quando o presidente Mohamed Mursi assumiu superpoderes por decreto. Milhares saíram às ruas em protesto contra o que interpretaram como guinada autoritária.

Sob pressão doméstica e internacional, Mursi cancelou algumas cláusulas do decreto, mas manteve o referendo sobre a Constituição, que foi moldada pela bancada islamita, majoritária na Assembleia Constituinte.

SHARIA

Descalço e vestido à vontade em uma galabia (túnica árabe), Gozlan recebeu a Folha e um jornalista espanhol em seu apartamento no bairro de classe média de Doki, centro do Cairo.

Membro da Assembleia Constituinte, ele rejeitou as queixas dos liberais de que a Carta é um retrocesso inaceitável após o tortuoso caminho percorrido pelo país desde a queda do ditador Hosni Mubarak, há quase dois anos.

"Essa é a melhor Constituição que o Egito já teve", diz Gozlan, com fala pausada. "Garante igualdade de direitos entre todos os egípcios."

Como nos tempos de Mubarak, a sharia (lei islâmica) mantém-se como referência para a nova Constituição.

Os opositores afirmam, no entanto, que novos artigos dão margem para interpretações ultraconservadoras, que poderão ser usadas pela maioria islamita para tolher as liberdades civis.

Gozlan rebate, afirmando que a volta aos princípios islâmicos era parte do programa de campanha da Irmandade Muçulmana, que levou à vitória de Mursi por pequena diferença na eleição presidencial de junho.

"É um processo gradual", diz. O conceito é de sharia adaptada ao século 21, voltada sobretudo para a melhora das condições sociais. "Ninguém está pensando em cortar as mãos de criminosos."

Manifestações contra e a favor do referendo estão previstas para hoje. Na praça Tahrir, o berço da revolução anterior, os opositores ensaiavam ontem seu protesto.

"Lutamos contra uma ditadura para cair em outra", disse a pesquisadora Diana Magdi, 24, diante de um palco em que desfilavam cantores de protesto. "Com o agravante de que agora temos a manipulação religiosa."

O Exército, que há poucos dias ganhou de Mursi o poder de fazer prisões, anunciou que 120 mil soldados farão a segurança da votação.

Numa decisão insólita, a autoridade estatal de televisão e rádio proibiu a veiculação de músicas românticas em suas 23 emissoras devido à "sensível situação política".

Segundo o jornal "Al Ahram", só canções "patrióticas" estão permitidas.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página