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Morre líder de grupo islâmico em Marrocos
Organização se opõe à monarquia no país
Morreu ontem, aos 87 anos, Abdessalam Yassine, criador do movimento marroquino Al Adl wa al Ihssane.
A entidade, cujo nome se traduz por "justiça e espiritualidade", diz que Yassine "retornou a Deus" e que, na próxima semana, deve ser escolhido o novo líder do grupo, fundado nos anos 80.
"A morte não é um problema, mas aceitamos as condolências", afirma à Folha Abdallah Chibani, genro de Yassine e membro da cúpula da entidade -o maior grupo religioso de oposição no país.
O Al Adl wa al Ihssane permanece na ilegalidade no Marrocos por ter como posição principal a recusa em reconhecer o rei Mohammed 6º como o "amir al muminin", ou o "comandante dos fiéis".
"O líder deve ser eleito pelo povo", afirma Chibani. "Somos uma entidade contrária ao sistema e achamos que, dentro do islã, um monarca não tem legitimidade."
"Nossos melhores governantes históricos foram eleitos, eles não herdaram o poder", diz.
"Não eram reis almôadas ou alauitas" -ele se refere a duas dinastias marroquinas, a última delas no poder há quase quatro séculos.
ASSÉDIO
Em um país em que ofensas ao rei são punidas e cujo sistema penitenciário é criticado pelo uso sistemático de tortura, a posição do Al Adl wa al Ihssane é delicada.
"Somos sempre assediados pelo governo. Eles não nos toleram nem nos reconhecem como movimento legítimo", diz Chibani. Yassine passou anos em um manicômio.
"Há preocupação em razão do desaparecimento, prisão e tortura de membros", afirma a pesquisadora americana Allison McManus. Ela nota que, mesmo entre os setores seculares da sociedade marroquina, "há muita admiração pela organização".
A exemplo de outros movimentos islâmicos, o grupo fundado por Yassine tem como uma de suas metas o estabelecimento de um Estado com lei baseada na sharia.
"A democracia secular é coisa do Ocidente. Estamos com o islã", diz Chibani, que reforça também apoiar "os direitos das minorias".
Ele é casado com Nadia Yassine, filha do fundador do grupo e advogada dos direitos das mulheres no país.
O movimento Al Adl wa al Ihssane, que não divulga número de seguidores, está presente no exterior, principalmente nos EUA e no Canadá. No Brasil, não há atividade.