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Cidade de Chávez torce por sua melhora

Em Sabaneta, os amigos de infância do presidente temem por sua saúde e pelo futuro da revolução bolivariana

Município, com escassez de açúcar e cortes de luz, é microcosmo dos desafios do governo

Carola Solé/Efe
Moradora de Sabaneta mostra foto de Hugo Chávez na juventude; município é a cidade natal do presidente venezuelano
Moradora de Sabaneta mostra foto de Hugo Chávez na juventude; município é a cidade natal do presidente venezuelano
FLÁVIA MARREIRO ENVIADA ESPECIAL A SABANETA (VENEZUELA)

A escola onde Hugo Chávez estudou, na praça principal de Sabaneta, sua terra natal, tem um painel com o seu rosto, ao lado de heróis históricos. A poucos metros, a casa onde ele nasceu virou um centro educacional que leva o nome de sua avó. O lugar em que morou é agora a sede do partido chavista.

A cidade, configurada para ser um reconhecível "berço da revolução bolivariana", como diz a propaganda oficial, vive uma tensa calmaria.

Com os ritmos ditados pelo sol forte do oeste da Venezuela, apoiadores do presidente e seus amigos de infância discutem sobre sua saúde, temem pelo futuro de Sabaneta e do país e especulam se o câncer irá obrigá-lo a deixar definitivamente o poder.

"Já estão como jacarés à espera da presa", diz Francisco Bastidas, 63, amigo de infância de Chávez, 58, dizendo esperar agudas disputas pelo poder na ausência do presidente.

Ao lado dele, estão Adrián Frías, 62, primo mais velho de Chávez, e Alfredo Aldano, 61, companheiros com quem o esquerdista jogava beisebol, ia a festas paquerar e cantava músicas "llaneras", típicas da grande planície agropecuária venezuelana, onde fica a cidade.

Estamos num recém-inaugurado polo de iniciativas do governo.

Instaladas em ambientes refrigerados e em um dos locais mais agradáveis da cidade estão uma loja de arepas (o quitute de milho que é a comida mais popular do país) "socialista", uma cafeteria "socialista" e uma farmácia a preços subsidiados.

Bastidas, motorista aposentado, tem esperança de que o presidente, após se recuperar de uma complexa cirurgia oncológica, retorne de Cuba para tomar posse em 10 de janeiro. Ele não esconde, no entanto, as dúvidas sobre a continuidade da "revolução" sem Chávez.

Diz que o vice-presidente, Nicolás Maduro, escolhido por Chávez como herdeiro político, "é o melhor entre o que há". Mas vê com desconfiança outro nome forte do chavismo, o líder da Assembleia, Diosdado Cabello. "É o único com poder para derrubar Chávez. Não acredito que goste do presidente de verdade."

O primo de Chávez assente com a cabeça, mas o amigo Aldano, um treinador de vôlei aposentado, discorda: "O presidente já semeou suas ideias, já estão plantadas. A revolução vai seguir".

"Vamos ser claros, Aldano", interrompe Adrián Frías. "Nem os irmãos obedecem o que Chávez manda. Tudo está se acabando."

O primo fala do clã Chávez, que governa tanto o município Alberto Arvelo Torrealba, cuja sede é Sabaneta, como o Estado a qual pertence, Barinas -o irmão mais velho do presidente, Adán, é governador, e outro irmão, Anibal, é prefeito.

"Sou sindicalista rural, tenho de defender os interesses dos produtores. É um fracasso", exaspera-se Frías, falando sobre uma empresa de insumos agrícolas da cidade expropriada pelo governo em 2011. "Não tem veneno. Não tem nada."

O primo reclama ainda da gestão da grande obra da cidade, uma usina estatal de açúcar. "Por que os produtores perdem todos os anos hectares e hectares de cana?"

Quando a Folha visitou Sabaneta, em 2007, a central de açúcar estava sendo construída, com longo atraso e denúncias de corrupção. Agora em funcionamento, a usina tem produção irregular.

Não muito longe dali, Yohaidis Lizarazo, 17, quer saber: "O que você achou de Sabaneta? Para ser a cidade do presidente era para ser melhor, não?", diz ela, que reclama da falta de açúcar e dos cortes de luz na cidade.

Yohaidis recebe o equivalente a R$ 50 por mês como bolsa para completar o ensino médio. Sua família espera uma casa do governo, e ela não titubeia para dizer que votará para sempre no comandante, se ele seguir.

De volta ao café "socialista", os três amigos de Chávez riem lembrando da época em que iam visitar o presidente, então no início da carreira militar, em Elorza, em Apure -Estado vizinho de Barinas, também parte dos "llanos".

Foi em um comício em Apure, em plena campanha eleitoral em setembro, que o presidente citou Elorza.

Na ocasião, ele chorou ao pedir a Deus que lhe concedesse "vida, para seguir lutando pela pátria" e "um último sonho": voltar a ser "livre como o vento, nem que seja por uns dias, por uns meses", para voltar a percorrer a região tocando viola e maracas com seus companheiros.

Bastidas e Frías dizem que ele conseguirá, "com o poder de Deus". Aldano, não.

"Não. Não mais. Ele morre lá, na Presidência. Por nós. Lá morre Hugo."


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