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Universidade milenar será 'juiz' de lei islâmica no Egito

Caberá à Al Azhar interpretar a sharia se Constituição polêmica for aprovada

Juristas veem risco em pôr autoridade religiosa acima do Judiciário; para professor, temor de liberais é infundado

MARCELO NINIO ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Enquanto a oposição teme uma guinada religiosa com a Constituição defendida pelo governo egípcio, a milenar entidade nomeada guardiã da lei islâmica encara o desafio de retomar o papel de berço do islã moderado.

Mais antiga e influente instituição islâmica sunita do mundo, a Universidade Al Azhar ganhará status de juiz sobre a sharia (lei islâmica) caso o polêmico projeto constitucional seja aprovado.

Para liberais e juristas egípcios, é um precedente perigoso, pois coloca a autoridade religiosa acima do Judiciário e pode conduzir a interpretações extremistas do Corão defendidas pela maioria islamita no Parlamento.

No vasto campus da universidade, ligado à mesquita do mesmo nome na parte antiga do Cairo, o temor é considerado infundado.

"A Al Azhar sempre foi um centro de pensamento moderado, ponto de encontro de poetas e escritores", diz o professor de islamismo Alaa al Sharif, que trabalha na administração da universidade.

Fundada há mais de mil anos, tem alunos de 96 países, incluindo um do Brasil, segundo o professor Sharif.

Referência mundial em estudos islâmicos e literatura árabe, a instituição também abriga desde os anos 60 faculdades de medicina, agricultura, economia e outras disciplinas não religiosas.

"A Arábia Saudita é a capital do islã. Mas a Al Azhar é a capital do pensamento islâmico", diz Abdel al Haq, 27, estudante de Bangladesh, carregado de livros enquanto tentava pegar um táxi na porta da universidade.

A influência da Al Azhar ultrapassa amplamente os domínios da educação. A universidade emite fatwas (éditos religiosos) sobre disputas religiosas do Marrocos à Indonésia, e seu principal imame (sacerdote) é considerado uma espécie de papa no mundo muçulmano.

AUTONOMIA

A instituição era submissa ao ditador Hosni Mubarak, deposto no ano passado, que usava os éditos como verniz religioso para suas políticas. A nova Constituição promete torná-la uma instituição autônoma, embora ainda financiada pelo Estado.

Assim como nos tempos de Mubarak, a sharia continua como "principal fonte de legislação" na nova Carta. A diferença é que, pela primeira vez, uma autoridade religiosa terá o papel formal de interpretar a lei islâmica.

O adendo foi feito para "apaziguar" os salafistas (muçulmanos ultraconservadores), diz o ativista de direitos humanos Hossam Bahgat, que vê com preocupação a concessão de poder religioso acima dos tribunais civis.

"Isso pode levar às mais extremas interpretações da sharia em temas como violência contra a mulher, casamentos de menores e punições de crimes", diz ele.

Doutor em estudos islâmicos pela Universidade Al Azhar e xeque de uma mesquita em Zamalek, bairro de classe alta do Cairo, Rabia Abdel Aty considera a previsão puro alarmismo.

Para ele, a tradicional visão moderada da universidade é um contraponto ao extremismo de algumas escolas de pensamento, como a da Arábia Saudita, e terá um efeito contrário ao temido pela oposição liberal.

A autoridade concedida aos especialistas da Al Azhar, sustenta Aty, servirá como garantia contra os eventuais excessos da parte dos salafistas e também da Irmandade Muçulmana, o grupo ao qual está ligado o presidente egípcio, Mohamed Mursi.


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