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Papado já foi transferido a leigo ou vendido

Por mil anos, pontífices reinaram sobre grandes territórios, e sua eleição sofria influência militar e diplomática

JOÃO BATISTA NATALI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O papa não é só o dirigente espiritual da comunidade católica. Já foi o monarca de boa parte da Itália atual.

Esse reino se consolidou pela primeira vez no século 8º, quando os reis Pepino, o Breve, e Carlos Magno invadiram a Itália, derrotaram os lombardos e doaram o território tomado deles ao papa; e desapareceu em 1870, quando o moderno Estado italiano se formou -o general Rafael Cadorna invadiu Roma e confinou o papa no Vaticano.

Por ter sido um monarca com alianças e conflitos com outros reis, a eleição do pontífice sofria influência militar e diplomática estrangeira.

Leão 10º, filho do florentino Lourenço de Médici, sem ser ainda padre, virou papa em 1513. Em uma semana, foi ordenado e feito bispo para ocupar o papado. Na época, França e Áustria tinham "bancadas" de cardeais que a ele se opunham. Mas ele se impôs pelo cacife familiar.

Em 1644, conclave de 35 dias elegeu Inocêncio 10º, vetado pela França e pelos sobrinhos do antecessor Urbano 8º e apoiado pela Espanha.

Em 1800, o conclave durou três meses e meio. A Itália fora invadida pelo Exército francês. Os cardeais se reuniram em Veneza, sob proteção austríaca. Fortalecida, a monarquia de Viena vetou dois cardeais antes que Barnaba Chiaramonti se tornasse Pio 7º.

A sucessão de Pio 7º, em 1823, também foi confusa. Com dois terços dos votos, o cardeal Severoli foi vetado pela Áustria. Com o impasse político, o conclave elegeu o cardeal Della Genga, que aparentava péssima saúde e seria ideal para mandato-tampão. Mas Leão 12, seu nome como papa, ficou oito anos.

Em termos de dramaticidade e demora, no entanto, nenhum conclave supera o que elegeu Teobaldo Visconti como papa Gregório 10º em 1271. Havia quase três anos que o trono de Pedro estava vazio devido à rixa entre cardeais franceses e italianos.

Reunidos em Viterbo, perto de Roma, os cardeais só quebraram o impasse, rezam crônicas da época, quando os moradores trancaram os prelados, reduziram sua dieta a pão e água e, finalmente, tiraram o telhado do palácio.

Foi Gregório 10º que adotou como regra reunir os cardeais em lugar fechado a chave (em latim, "cum clavis", de onde vem a palavra "conclave") para escolher o papa.

SUBORNO

Com um histórico de 21 séculos e mais de 260 papas, é previsível que em alguns conclaves o dinheiro pesasse mais que o Espírito Santo.

O exemplo mais caricatural é o de Benedito 9º (1032-1045). Seu pai subornou os cardeais que o elegeram. Ele renunciou para se casar e, literalmente, revendeu o trono a seu padrinho, Silvestre 3º.

Outra raridade foi a venalidade dos cargos de cardeais. O hábito foi praticado por Júlio 2º (1503-1513), que paradoxalmente codificou a invalidez dos conclaves em que cardeais vendem votos.

A desonestidade dos conclaves foi sempre excepcional. Mesmo os meios anticlericais reconhecem a religiosidade e a boa-fé dos papáveis. O problema é chegar lá, nem sempre por meios ortodoxos.

A influência política de Alexandre Farnese, por exemplo, cresceu porque sua irmã era amante de Alexandre 6º -aliás, pai de Lucrécia Borgia, outra "femme fatale" da época. Farnese seria um dos sucessores do "cunhado"-em 1534, ele assumiu o papado como Paulo 3º.


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