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Cristãos do Iraque tentam se reerguer

Comunidade já representou 5% do país, mas hoje não passa de 2%; minoria teme novos episódios de violência

'Estávamos aqui antes mesmo de o Iraque existir', brinca Wathiq Hindo, referindo-se ao povo caldeu

SÉRGIO DÁVILA ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

A escolha do novo papa passou despercebida em Bagdá, mais preocupada em acompanhar as intrigas palacianas em torno do primeiro-ministro, Nouri al Maliki, e em saber onde, quando e quantos morreram no mais recente ataque terrorista. No de anteontem, 18 pessoas foram mortas (leia ao lado).

Pelo menos em um lugar, no entanto, a frase "Habemus papam" foi recebida com alegria: na igreja católica Nossa Senhora da Salvação, a principal da cidade. "Estamos felizes e esperamos que Francisco conduza a igreja a um novo patamar", disse à Folha o bispo Yousef Abba.

Ele está à frente de dois desafios: convencer os fiéis a voltar a frequentar o local, recém-inaugurado pouco mais de dois anos após ter sido palco de um dos piores massacres desde a invasão de 2003; e estancar o êxodo de uma comunidade que já representou 5% da população iraquiana e hoje oscila entre 1% e 2%, segundo levantamentos.

Em novembro de 2010, terroristas ligados à Al Qaeda invadiram a missa noturna e mataram 55 das 150 pessoas, entre elas duas crianças (uma de oito meses), dois padres e uma noiva. O bispo Yousef não se importa de reconstituir aos visitantes o minuto a minuto daquela manhã.

"Antes de se explodir, um deles jogou uma granada na sacristia, onde se escondiam 70 pessoas", diz, apontando o local. "Quando os policiais entraram, havia pedaços de corpos por toda a parede e pelo teto -em todos os lugares, menos na imagem da Nossa Senhora."

O suposto milagre fez com que um grupo de senhoras xiitas passasse a frequentar diariamente a entrada da igreja, para fazer pedidos para a imagem.

Dois anos e uma reforma depois, a igreja foi reinaugurada, com a presença do muçulmano xiita Al Maliki, que destinou US$ 3 milhões à reconstrução. Na ocasião, ele pediu ao bispo Yousef: "Mantenha os cristãos no Iraque".

A missão tem fracassado. O grupo, que vivia em relativa harmonia com os muçulmanos sob Saddam, virou alvo de extremistas islâmicos.

Muitos tiveram de deixar suas casas, expulsos por famílias interessadas tanto na subjugação religiosa quanto na especulação imobiliária.

Outros, durante a pior fase da violência sectária, entre 2005 e 2007, eram mortos ao mostrar a identidade nos check-points, os pontos de segurança espalhados pelas ruas -no Iraque, um dos itens do documento é a religião.

"Mas nós somos os índios do Iraque, estávamos aqui antes mesmo de o país existir", brinca o empresário Wathiq Hindo, referindo-se aos caldeus, povo antigo da Mesopotâmia, hoje Iraque, de quem a Igreja Católica Caldéia emprestou o nome.

O Brasil conhecerá parte dessa comunidade em junho, durante a Jornada da Juventude: 108 iraquianos já pediram visto na Embaixada do Brasil no Iraque com esse propósito. O total deve chegar a 200 em breve.


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