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Iraque é viável, diz embaixador brasileiro
DO ENVIADO A BAGDÁHá pouco mais de um ano e pela primeira vez em duas décadas, o Brasil conta com embaixada própria em Bagdá, depois de um período de representação à distância, na vizinha Jordânia.
Seu titular, Ánuar Nahes, 60, tomou posse em março de 2012, num dos postos mais perigosos da diplomacia mundial e mais bem pagos da brasileira. Leia trechos da entrevista que ele concedeu por e-mail à Folha.
(SD)
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Folha - Em que as relações Brasil-Iraque mudaram entre 2003 e 2013?
Ánuar Nahes - Na esteira da invasão do Kuait em 1991 por tropas do regime de Saddam Hussein, o Brasil desativou sua embaixada em Bagdá e a transferiu para Amã, inicialmente como seção da Embaixada na Jordânia.
Mas, tão logo instaurado pela ONU o regime de Petróleo por Alimentos, o Brasil retomou contatos comerciais. À medida que o Iraque pós-2003 começou a se reestruturar, eles foram aumentando.
Com a retirada das tropas americanas, em 2011, o governo brasileiro considerou ser o momento de reabrir sua embaixada. Eu já estava em Amã desde dezembro de 2011 e cuidei da transferência. Nunca interrompemos as relações: só as adequamos às circunstâncias da história.
O Iraque já foi um dos principais parceiros comerciais do Brasil, nos anos 80. Como aumentar e tornar mais variada a pauta comercial entre os dois?
O Iraque é um país rico, precisa se reconstruir, luta para se reerguer internamente e se reposicionar internacionalmente. Atualmente, não focamos as relações apenas no setor comercial. Há cooperação cultural, educacional, coordenação política.
É só dar tempo ao tempo, aproveitar as oportunidades e seguramente o relacionamento bilateral se intensificará.
O Iraque é viável como país? A violência sectária não pode inviabilizar o projeto de união?
Sim, é viável. Sempre existem os interessados em fazer o jogo étnico ou sectário para atender a seus projetos de poder. Se o Iraque mantiver o regime democrático e fizer eleições regularmente nos próximos 10 a 20 anos, terá vencido a batalha. No Brasil foi assim. Democracia se constrói com paciência e pertinácia.