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New York Times

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Ensaio - Jon Caramanica

Para Timberlake, a música é secundária

Na última vez em que Justin Timberlake lançou um álbum, em 2006, Barack Obama era o senador mais novo por Illinois, Jay-Z e Beyoncé não estavam casados e o iPhone não existia.

Enquanto isso, Timberlake salientou sua importância de outras maneiras: aparições no programa de televisão satírico "Saturday Night Live", atuações em filmes aclamados ("A Rede Social") e criticados ("O Guru do Amor"), trabalho em uma linha de moda e golfe. Você sabe -uma vida cheia. Diante disso tudo, não há bons motivos pelos quais Timberlake, 32, devesse continuar fazendo música.

No entanto, ele está prestes a lançar "The 20/20 Experience", que poderia ser confundido com um exercício de arrogância se realmente fosse arrogante.

A maioria dos artistas que ficam afastados por tanto tempo estão tentando se livrar de alguma coisa -uma associação infeliz com um subgênero ou um escândalo feio. Mas do que Timberlake tenta se livrar há algum tempo é a música. Isso é um reflexo de suas metas profissionais e também do valor reduzido de ser uma estrela musical na atual economia do entretenimento.

Sua fama duradoura como celebridade polimática significa que ainda existe um apetite por sua música, mesmo que ele esteja fora de sintonia com a maioria das tendências atuais.

"The 20/20 Experience", um álbum amável e anódino que espera não alienar ninguém, mas também não oferece novos motivos para se comprometer. É um álbum de uma beleza amplamente inconsequente. Não pretende mudar mentalidades.

Isso fica claro desde o primeiro single, o arejado sucesso "Suit & Tie", que tem o ritmo ligeiro do primeiro New Edition com a elegância vocal de grupos soul banhados de sol como Tony! Toni! Toné!. A canção apresenta o verso mais dispensável de Jay-Z na memória recente (embora essa química medíocre não tenha impedido os dois de se juntar para uma turnê norte-americana).

O disco começa com uma comparação elaborada da mulher como droga, "Pusher Love Girl" ("Diga-me, posso conseguir uma luz? /Enrolar você e deixá-la correr por minhas veias"), e, não muito depois disso, uma comparação menos elaborada da mulher como algo saboroso, "Strawberry Bubblegum", que tem um agradável atrito entre a voz doce e aguda de Timberlake e as exortações guturais do produtor musical Timbaland.

É estranho que a única canção realmente grande desse álbum, "Tunnel Vision", seja de Chris Brown. Ela é moderna, com sua atualização da bateria vintage gaguejante de Timbaland e gélidos sintetizadores.

Também é inesperada a excitação rítmica de "Let the Groove Get In", com samples de um disco de música da África ocidental. Quase não é realmente uma canção, com Timberlake trabalhando algumas frases repetidamente, jamais criando tensão.

"The 20/20 Experience" foi feito com Timbaland, o produtor Jerome Harmon (conhecido como J-Roc) e o compositor James Fauntleroy. Timberlake cuidou da produção vocal, dos arranjos e de parte da mixagem. O resultado é uma pequenez de objetivo, com pequenas variações, como o soul profundamente íntegro de "That Girl" ou o sonolento "Blue Ocean Floor", que se tivesse sido lançado alguns anos atrás poderia ter sido chamado de um avanço no chillwave, o estilo de música pop rock nebuloso da época.

Sete das dez canções têm mais de sete minutos de duração. Em uma era de meditação soul de Frank Ocean, isso pode passar por arte, mas, na verdade, é um gesto de conservadorismo.

O pico do sentimento vocal de Timberlake foi "Gone", a canção de 2001 da banda 'NSync que salientou seu ganido doloroso. Mas, ao longo dos anos, ele foi lixado para ser um movimento mais contido, quase livre de angústia ou êxtase.

"Mirrors", a canção mais emotiva do novo disco -aparentemente escrita para sua mulher, a atriz Jessica Biel-, apresenta incrivelmente o processamento vocal, enterrando Timberlake e seu coração.

Esqueça o álbum. Vá ver as outras coisas em que Timberlake aplicou seu talento. Ele aprendeu a ser um músico que não precisa fazer discos, a solução perfeita para a economia moderna.


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