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New York Times

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Artista grava conversas com passageiros de seu táxi para obra

Por MATT FLEGENHEIMER

A carreira dele como taxista em Nova York começou com um plantão noturno, uma ânsia criativa e uma ousada interpretação das leis de privacidade.

Ela o levou, recentemente, a percorrer as exposições de arte no West Side de Manhattan na esperança de convencer a elite cultural local de que, com a trilha sonora correta, até um táxi amarelo pode virar uma galeria.

Entrementes, Daniel Wilson -artista, documentarista e, desde 2011, taxista credenciado no Brooklyn- gravou secretamente as conversas dos seus passageiros, juntou os melhores trechos e colocou o produto final no seu táxi, tocando os clipes para os passageiros.

"Esse é o mundo em que as pessoas agem como se você não existisse, embora você esteja a um metro de distância", disse recentemente Wilson, 35, no banco da frente do seu carro. "Você fica com esse fragmento da pessoa."

É claro que, ao contrário de um balconista de bar, de quem se espera pelo menos um falso interesse pelas histórias dos seus clientes habituais, um taxista raramente fica sabendo de confissões explosivas, rompimentos ruidosos, fofocas de escritório e telefonemas induzidos pelo whisky no fim da madrugada.

A obra de 37 minutos criada por Wilson, chamada "9Y40" (por causa do código do táxi que ele usou durante as gravações), baseia-se em um período de quatro semanas rodando das 17h às 5h. Ela inclui uma observação sobre tendências da moda ("Galhadas estão tão em alta atualmente"), a introspecção de um solteirão ("Sou extremamente namorável e interessante, mas eu não namoraria comigo mesmo") e as queixas de uma mulher sobre a felicidade da sua irmã ("Kelly não é uma infeliz solitária, ela tem um marido maravilhoso. Ela tem amigos -isso que é doentio"). Há também muitos palavrões.

O que não é certeza é se as gravações de Wilson foram obtidas legalmente. Embora vigore em Nova York o chamado "consentimento de uma parte" -conversas podem ser legalmente gravadas se apenas um dos participantes souber disso-, juristas dizem que as interações de Wilson com seus passageiros podem não constituir "conversas". Ele com frequência se empenhava em ficar quieto, contou, deixando que seus passageiros falassem sem serem provocados.

Wilson disse que, antes de apresentar sua obra, buscou orientação da entidade Advogados Voluntários para as Artes.

Foi informado de que, embora os passageiros ouvidos na obra pudessem processá-lo para impedir o uso da gravação, ele dificilmente enfrentaria sérios problemas jurídicos.

A Comissão de Táxis e Limusines de Nova York não informou se as gravações violam alguma regra, mas o seu diretor, David Yassky, disse que Wilson mostrou "péssima avaliação".

Ele acrescentou que a prefeitura vai decidir se é preciso instituir alguma regra para tratar de circunstâncias semelhantes no futuro.

Para mostrar sua obra, Wilson recentemente guiou seu táxi entre feiras de artes, concentrando seus esforços na Semana de Artes do Armory, de cinco a dez de março. Num sábado recente, ele mostrou seu trabalho a passageiros com um sistema de som instalado no assento traseiro do táxi e se recusou a cobrar -pela corrida e pela audição.

A passageira Victoria Reis, 42, que havia ido de Washington a Nova York para ver as exposições do Armory, achou o projeto "o menos pretensioso e o mais experimental" que ela vira na semana inteira. Ela lhe deu US$ 20 de gorjeta.


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