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Meticulosidade promove comediante suíço

Por PENELOPE GREEN

ZURIQUE - Ursus Wehrli é famoso em seu país por fazer parte da dupla cômica anarquista Ursus & Nadeschkin, mas, ultimamente, ele conquistou fama como o autor de uma visão de mundo especialmente meticulosa.

Por isso, pode ser um pouco decepcionante para alguns fãs de blogs de design saber que Wehrli não é exatamente fanático por limpeza, obsessivo ou compulsivo.

Os dois primeiros livros de fotos de Wehrli, "Tidying Up Art" [Organizando a arte] e sua sequência, "Tidying Up More Art" [Organizando mais arte], apresentam repetidamente uma piada visual em que ele "organiza" mestres modernos como Klee, Picasso, Pollock e Haring em uma série de fotos "antes e depois". Nos "depois", Wehrli, 44, desconstrói os componentes de cada pintura (por exemplo, partes do corpo em um Picasso ou quadrados em um Klee) e então os empilha em fileiras bem-arrumadas de cada cor. Sem saber organizar Pollock, ele oferece apenas latas de tinta.

O primeiro livro, publicado em 2002, vendeu 500 mil exemplares na Europa. No ano passado, ele foi convidado pelo correio da Suíça para "arrumar" um selo.

Recentemente, foi lançado nos Estados Unidos o terceiro livro de Wehrli, "The Art of Clean Up: Life Made Neat and Tidy" [A arte da faxina: a vida limpa e arrumada]. Mais de 100 mil exemplares da edição alemã, publicada no final de 2011, já foram vendidos.

Muitas pessoas se perguntam como deve ser a casa desse homem. Afinal, seu novo livro aborda mais temas cotidianos do que as belas-artes: a roupa secando em um varal é reorganizada pela cor; uma tigela de frutas picadas é organizada em partes, incluindo as bolinhas da tigela.

Acontece que a casa de Wehrli, um apartamento dúplex de seis quartos na zona oeste de Zurique, não é especialmente arrumada nem desleixada. Luminosa, sóbria e levemente industrial, é diferente do modo como muitos americanos veem os lares europeus: há muito menos coisas. Uma rede amarela corta a sala pela metade. Uma banqueta turquesa para os pés, já desgastada, está sobre um tapete laranja como um ponto de exclamação. Também não há muitas obras de arte.

Wehrli, que é ex-malabarista, mora com seu filho de seis anos e sua parceira há 16 anos, Brigitta Schrepfer, 46, em um condomínio de apartamentos em uma antiga área industrial que é uma espécie de modelo de vida comunitária de consumo colaborativo.

O malabarismo foi a carreira que ele escolheu porque lhe dava autonomia. Sua mãe não ficava preocupada?

"Ela se preocupava porque eu costumava treinar na cozinha e quebrava muitos pratos", disse.

Foi a mãe quem sugeriu que Wehrli participasse de uma oficina de circo na Alemanha 25 anos atrás. Lá ele conheceu Nadja Sieger. A oficina era entediante e caótica, disse, e os dois se uniram para criticá-la. No início, seu número era principalmente malabarismo, música e monociclo.

Ele conheceu Schrepfer, que é bailarina, quando ele e Sieger viajaram para Nova York no final dos anos 1990 para se apresentar em um centro de artes. Na ocasião, ele alugou um quarto em um apartamento que já fora de Schrepfer.

O condomínio onde eles moram desde 2001 não é maravilhoso do ponto de vista arquitetônico, mas seus esquemas sociais e ambientais o tornam adorável.

Os moradores colaboram em projetos de manutenção, fazem jantares em grupo, organizam noites de cinema e têm uma videoteca. Eles pagam uma "taxa simbólica" de cerca de US$ 10 a 60 por mês para ajudar os inquilinos de baixa renda e projetos ambientais, como a produção de adubo orgânico.

Em sua sala, Wehrli meditava sobre estereótipos culturais, como a organização dos suíços.

"Nós moramos em um pequeno país, grande parte do qual é coberto por montanhas", disse. "Temos que encontrar constantemente maneiras de contornar essas montanhas. Temos que nos organizar o tempo todo. Você aprende imediatamente que precisa se coordenar com os outros. É preciso ter regras. Não existem muitos suíços arrogantes -o 'grössenwahn', a pessoa que se considera muito especial. Não temos astros nos esportes, na música ou na arte, exceto Roger Federer, que é muito tímido."

Mas poderíamos dizer que Wehrli e Sieger são astros.

A dupla ganhou quase todos os grandes prêmios de teatro dados em seu país. Eles se apresentam em cerca de cem espetáculos lotados por ano.

Como comediante, Wehrli disse que se dedica a reverter as expectativas. "Os comediantes pegam uma situação clara e a transformam em uma confusão", disse. "Nos meus livros, eu faço a mesma coisa, mas no outro sentido. Gosto de bagunçar a bagunça."


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