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New York Times

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Zimbabuanos perdem antiga fé na oposição

Por LYDIA POLGREEN

HARARE, Zimbábue - Os convidados chegaram em Bentleys e BMWs. Na festa de casamento à beira do rio, vinhos e destilados corriam soltos, em meio a um amplo bufê. Políticos, celebridades, diplomatas e líderes empresariais se confraternizavam, e o popular músico zimbabuano Oliver Mtukudzi embalava o casal anfitrião.

O noivo era o primeiro-ministro Morgan Tsvangirai, tradicional líder da oposição, mas cada vez mais à vontade em um governo de unidade nacional com o presidente Robert Mugabe.

"Eu não podia acreditar nos meus olhos", disse o parlamentar Misheck Shoko, do Movimento pela Mudança Democrática (MDC, na sigla em inglês), o partido de Tsvangirai. "Isso deve ter custado uma fortuna. Não podemos deixar de nos perguntar: quem pagou a conta?"

Em ano de eleição presidencial, os zimbabuanos cada vez mais questionam a oposição a Mugabe e seu partido, o Zanu-PF, que há décadas controlam firmemente o país.

O partido de Tsvangirai era a esperança de milhões de zimbabuanos por um futuro mais democrático, pacífico e próspero. Mas, após quatro anos governando com Mugabe -e sendo, segundo analistas, de certa forma cooptado por ele e seus aliados-, a reputação do MDC está abalada.

O desencanto ficou evidente em uma pesquisa encomendada no ano passado pela ONG americana Freedom House, segundo a qual o apoio ao MDC caiu de 38% em 2010 para 20% entre os eleitores que declararam uma preferência. Já o apoio ao Zanu-PF -que se aferrou ao poder surrando, torturando e intimidando milhares na última eleição, em 2008- subiu de 17% para 31% nesse período.

Tsvangirai ganhou fama como o líder de um partido que se atreveu a desafiar o domínio de Mugabe, que governa o país africano desde a sua independência, em 1980. As fotos de 2007 em que ele aparecia com a cabeça ensanguentada após ser surrado galvanizaram a opinião pública mundial contra o presidente.

Mas agora o estilo de vida de Tsvangirai virou um assunto nacional, num país onde milhões vivem com US$ 2 por dia. Ele começou a viajar mais para o exterior, segundo analistas e funcionários, o que incluiu passar a lua de mel em Londres e férias em Mônaco. Recentemente, ele se mudou para uma residência oficial cuja construção custou cerca de US$ 3 milhões.

Seu partido entrou para o governo em 2009, mas, na prática, não tem autoridade quase nenhuma para alterar a estrutura do Zimbábue. O MDC ocupa ministérios que controlam a economia e os serviços sociais -duas coisas que melhoraram-, mas não consegue transformar o Estado policial implantado por Mugabe.

A antiga mulher de Tsvangirai, Susan, morreu em um acidente de carro em 2009. Desde então, a vida sentimental dele é um grande assunto na imprensa. Quando ele planejava o casamento com Elizabeth Macheka, sua atual mulher, outra mulher apareceu dizendo ter se casado com ele em 2011. Um juiz sentenciou que ele já estava casado sob a lei consuetudinária, e o premiê teve de cancelar as bodas, preferindo em vez disso chamar de "celebração" a cerimônia de setembro.

Em Chitungwiza, reduto do MDC, um escândalo de corrupção tomou conta da Câmara Municipal. Ocupantes de cargos eletivos são acusados de venderem lotes municipais por cerca de US$ 4.000 cada, embolsando a maior parte do dinheiro.

Os vereadores viraram um alvo fácil para burocratas corruptos do partido de Mugabe, disse Amos Matanhike, ex-presidente da Câmara de Chitungwiza. "O problema é que a maioria dos vereadores do MDC é muito jovem. Esses rapazes aproveitaram essa oportunidade e embarcaram no trem da alegria."

O MDC destituiu os vereadores, mas o ministro de Governo, nomeado pelo Zanu-PF, vetou a decisão.

Críticos afirmam que a oposição foi enganada por Mugabe. "O velho Bob deve estar rindo e se divertindo neste momento", disse o ativista Munyaradzi Gwisai. "Eles os colocou exatamente onde queria que estivessem."

Mas o dirigente partidário Nelson Chamisa diz que Tsvangirai continua sendo a maior esperança de mudança. "Ele é a única chance."


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