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New York Times

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Estado mexicano retoma busca por desaparecidos

Por RANDAL C. ARCHIBOLD

MONTERREY, México - Rosa González não consegue afastar a lembrança do investigador do Estado que tinha medo de represálias se fizesse um relatório completo, do policial que encolheu os ombros quando chegou o pedido de resgate, dos meses de dúvida angustiante e, principalmente, das últimas palavras de sua filha antes de desaparecer.

"Estou lhe dando um abraço porque a amo muito", disse a jovem Brizeida, 23, antes de ser raptada com sua prima de 21, há mais de dois anos.

A história poderia ter terminado aí, somando-se à de milhares de mexicanos desaparecidos. Diferentemente daqueles de outros países latino-americanos, que foram vítimas de governos repressivos, muitos desaparecidos do México são vítimas da violência do crime organizado e das drogas.

Mas, aqui no Estado de Nuevo León, os promotores, detetives, ativistas de direitos humanos e famílias estão reexaminando os casos em conjunto e já conseguiram solucionar vários deles.

Há cerca de 26 mil relatórios de pessoas desaparecidas no banco de dados do governo federal, e o governo do presidente Enrique Peña Nieto prometeu começar a trabalhar neles.

Muitas vezes, isso exigiria que as autoridades investigassem a si mesmas. Em junho, a comissão nacional de direitos humanos disse que estava examinando 2.443 casos em que a polícia ou os militares pareciam ser os sequestradores.

Mas a ação pública das famílias das vítimas e de grupos internacionais, incluindo uma série de protestos de mães de vítimas, pressionou o gabinete do ministro da Justiça, na Cidade do México, a anunciar em meados de junho que uma nova unidade vai tratar dos casos.

Os defensores das vítimas continuam céticos, dizendo que o trabalho precisa ser feito em nível estadual e local, onde os casos são primeiro relatados e onde estão a maioria das pistas.

Em Nuevo León, um dos Estados mais atingidos pela violência, eles elogiaram o gabinete do promotor público pelo trabalho com um grupo de direitos humanos e com as famílias na revisão dos casos, às vezes com investigações que não haviam sido iniciadas.

Desde que o governo aceitou, em junho de 2011, reabrir dezenas de casos, 52 foram resolvidos, incluindo 12 pessoas descobertas neste ano que estavam sob custódia das autoridades, sem que suas famílias soubessem. Cerca de 40 pessoas foram presas sob acusações de sequestro ou homicídio, sendo 16 delas policiais.

"Procurar os desaparecidos e encontrar as pessoas responsáveis pelos sequestros no México, onde os investigadores normalmente não fazem nada disso, é um progresso", disse Nik Steinberg, um investigador da Human Rights Watch.

Eduardo Ayala, que ajuda a coordenar as investigações no gabinete da promotoria de Nuevo León, disse que as autoridades estão avançando em parte porque o Estado demitiu cerca de dois terços de suas forças policiais em 2011. "A polícia hoje vai a todos os cantos do Estado para investigar, o que não fazia antes", disse.

Segundo ele, o Estado, trabalhando com a ONU e especialistas de outros países, está escrevendo um protocolo para padronizar como esses casos devem ser tratados. A maior parte do impulso veio de Consuelo Morales, freira católica que dirige uma organização local de direitos humanos chamada Cadhac.

"Temos uma lista de pontos a verificar", disse ela. "Eles tiraram uma amostra de DNA? Eles têm gravações de celular? Há uma placa do carro que levou a vítima?"

González levou seu caso a Morales em novembro passado, dois anos depois do sequestro. Elas se reuniram com os promotores e localizaram o arquivo do caso, preenchendo detalhes que foram deixados de fora e cruzando-os com as investigações atuais.

A polícia estava formando um dossiê contra Jaime Cabello Figueroa, 40, chefe do crime organizado que atuava na cidade onde as mulheres foram sequestradas. Quando ele foi detido, em janeiro, a polícia disse que ele confessou estar envolvido em várias mortes e desaparecimentos, incluindo os da filha e da prima de González.

González agora quer falar diretamente com ele, para que possa ver sua dor e dar mais informações sobre sua filha. Ela disse que pagou um resgate, mas então o contato com os sequestradores foi interrompido. A polícia nunca deu seguimento ao caso.

"Eles me disseram que, se eu entrar na cadeia e falar com ele, os bandidos vão mandar me seguir do lado de fora", disse. "Mas, se eles quiserem me matar, que me matem. Estou lutando para que minha filha seja encontrada, esteja onde estiver."


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