Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Arte de dissidente chinês vai para cadeia

Artista chinês explora temática do encarceramento

Por JORI FINKEL

O artista e dissidente político chinês Ai Weiwei foi um dos prisioneiros mais famosos da história recente. Agora, ele está tomando conta de uma infame prisão americana, a de Alcatraz, na baía de San Francisco, que serve de inspiração e cenário para uma série de novas obras que ele lança em setembro.

É a primeira vez que a antiga penitenciária abre seus invioláveis portões de aço a um grande artista contemporâneo, segundo o Serviço Nacional de Parques dos EUA. A promessa é de que esse seja um projeto de grande visibilidade de Ai, que, falando por telefone de Pequim, contou nunca ter estado em Alcatraz, mas que se interessa em explorar as condições nas quais os indivíduos são privados de direitos humanos básicos: "A ideia de perda de liberdade como punição desperta questões filosóficas".

"Tenho amigos demais que ainda hoje estão na cadeia", acrescentou. "O fato de pessoas que estão lutando pela liberdade serem encarceradas é ainda mais irônico."

O próprio Ai passou 81 dias detido em 2011, sob a acusação de sonegação fiscal, depois de investigar longamente o governo chinês por ele permitir construções precárias que contribuíram com a morte de milhares de crianças nas suas salas de aula durante o terremoto de 2008 em Sichuan. Apoiadores de Ai disseram que o inquérito tributário foi um pretexto para silenciar um dos mais desinibidos críticos do governo chinês. O artista, de 56 anos, continua sujeito a restrições para viajar.

"Meu passaporte está nas mãos da polícia já faz quase três anos", disse ele. "Perdi minha capacidade de viajar."

Para o projeto de Alcatraz, ele está trabalhando com Cheryl Haines, uma galerista de San Francisco que fundou a organização sem fins lucrativos For-Site com o objetivo de ajudar a concretizar projetos artísticos em locais públicos específicos da região. Ai disse que não está "pensando em uma obra que se vincule diretamente à minha própria detenção", como foi o caso num recente conjunto de seis dioramas expostos em uma igreja de Veneza. Aquelas imagens escultóricas recriavam cenas do doloroso confinamento que foi a sua própria detenção, como ao mostrá-lo sendo interrogado ou tomando banho, tudo sob o olhar de dois guardas.

O plano é instalar algumas obras no prédio que serviu como penitenciária de segurança máxima de 1934 a 1963. Outras obras são destinadas a uma lavanderia adjacente, onde os presos eram colocados para trabalhar.

Haines disse que há muito tempo se interessa pelas várias camadas da história de Alcatraz -como prisão federal, como prisão militar e como local de protestos de indígenas americanos. Ela contou que mencionou o lugar pela primeira vez a Ai durante uma visita ao ateliê dele, nos arredores de Pequim, dois anos atrás.

"Ele estava falando em como se interessava em atingir um público amplo, além do mundo artístico", disse ela por telefone. "Isso foi quatro meses depois de ele ser libertado da cadeia. Essa ideia acendeu na minha mente: 'E se eu trouxesse uma prisão para você?'."

Depois que o artista manifestou interesse, Haines se empenhou em obter o apoio do Serviço Nacional de Parques, que supervisiona a ilha, e da Conservadoria Nacional de Parques do Golden Gate, que entra com as verbas e a programação.

Frank Dean, superintendente do Serviço Nacional de Parques encarregado da Área Recreativa Nacional do Golden Gate, disse que desde o começo houve um forte interesse pela obra de Ai, mas que seu grupo precisou avaliar questões práticas antes de autorizar a iniciativa. A ilha, com apenas nove hectares, recebe 1,5 milhão de visitantes por ano.

Também havia preocupações políticas. Por causa do conturbado histórico do artista com o governo chinês, Dean disse que seu grupo não quis dar o sinal verde antes de ouvir o Departamento de Estado dos EUA.

"Se essa fosse uma exposição educativa comum", afirmou, "não precisaríamos da autorização do Departamento de Estado, mas, considerando a situação -que o artista continua sob uma espécie de prisão domiciliar-, quisemos garantir que ninguém em Washington se surpreenderia."

A fundação não quis revelar o orçamento da exposição, que se chamará "Ai Weiwei sobre Alcatraz". Confirmou, no entanto, que o artista não está recebendo nenhuma comissão e que o acesso à exposição será gratuito para quem comprar um ingresso de visita a Alcatraz (atualmente US$ 30, incluindo a balsa). A exposição de Ai ficará em cartaz de 27 de setembro de 2014 a 26 de abril de 2015.

Ai talvez não possa visitar a prisão -pelo menos não antes da abertura da exposição. "Eu adoraria recuperar meu direito de viajar antes disso", afirmou, "mas não tenho ideia se é possível."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página