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Eleição em Istambul testa premiê

Por TIM ARANGO

ISTAMBUL - Engin Bayrak é dono de uma loja perto do Chifre de Ouro, a via aquática através da qual balsas conectam as porções asiática e europeia da imensa cidade de Istambul. Ele é testemunha direta das melhoras nos serviços públicos ao longo da última década, quando o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento, um movimento islâmico, deram cara nova à cidade.

"Água limpa, eletricidade confiável -coisas que hoje nos parecem normais- não tínhamos antes", diz Bayrak. Mesmo assim, ele afirma, agora que um escândalo de corrupção expôs o lado escuro do firme crescimento de Istambul, sua intenção é a de não continuar votando em Erdogan e seu partido, o AKP.

"Foi o que veio depois disso que arruinou a cidade", diz. "Os projetos loucos não eram loucos. Eram projetos movidos pela cobiça. Enquanto recebíamos alguns pequenos confortos, o governo e Erdogan enriqueciam."

Agora que um escândalo de corrupção engolfou o círculo mais próximo de assessores de Erdogan, ameaçando o poder do primeiro-ministro, a disputa pela Prefeitura de Istambul -cidade que abriga quase 20% da população turca- ganhou destaque.

A eleição acontecerá em março, e os oponentes progressistas e laicos de Erdogan parecem estar cada vez mais determinados a usar esse pleito como um primeiro passo para desafiar o líder nacional nas urnas.

As esperanças da oposição dependem de Mustafa Sarigul, candidato apresentado pelo principal partido laico de oposição, o Partido Republicano do Povo. Sarigul é o subprefeito do populoso e movimentado bairro de Sisli.

O oponente de Sarigul não será Erdogan, é claro, mas o prefeito Kadir Topbas, membro do AKP que venceu a eleição municipal passada, em 2009. Mas a presença de Erdogan na disputa é grande, já que ele se envolveu pessoalmente em muitas das questões de desenvolvimento local, entre as quais a decisão de demolir o parque Gezi para a construção de um shopping center, que causou ondas de protestos.

A paisagem urbana de Istambul serve há muito como tela para a elite governamental da Turquia, mas os especialistas dizem que nenhuma administração precedente tentou mudar Istambul de maneira tão agressiva quanto o AKP. Hoje, guindastes de construção são mais visíveis no panorama da cidade do que os minaretes das mesquitas.

A disputa pela prefeitura de Istambul determinará de que maneira os cidadãos avaliam as melhoras em suas vidas em comparação às revelações sobre a vasta riqueza acumulada por funcionários do governo e empresários bem relacionados. Também será uma disputa entre as tradições laicas da Turquia e a política islâmica que domina o país há uma década.

"Vivemos num país laico", diz Zehra Hocaoglu, 33, que trabalha em uma fábrica de refrigerantes. "Queremos viver desse jeito. Votarei em Sarigul".

Mas, para os religiosos, a ascensão de Erdogan ao poder criou a sensação de que eles detêm parte desse poder. "Eu costumava ter de tirar o véu para assistir às minhas aulas", diz a professora Sevim Ergun, falando na balsa que conduz ao lado asiático de Istambul. "Mas neste ano pude assisti-las sem tirá-lo".

Uma derrota do AKP em Istambul, dizem os especialistas, ameaçaria a ambição de Erdogan de se tornar presidente neste ano, na primeira eleição para o posto por voto nacional direto.

"Em maio do ano passado, antes do parque Gezi, havia pouca dúvida de que ele conquistaria a Presidência por margem confortável", disse Ozgur Unluhisarcikli, diretor do escritório do German Marshall Fund of the United States, organização de pesquisa, em Ancara. "Hoje nada está claro quanto ao futuro da política turca."


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