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Alemanha leva o islã à escola

Crianças aprendem sobre o islamismo no ensino público

Por ALISON SMALE

FRANKFURT - Pela primeira vez, as escolas públicas da Alemanha estão oferecendo aulas sobre o islamismo para alunos do ensino primário, numa tentativa das autoridades de melhorar a integração da grande minoria muçulmana do país e conter a crescente influência do pensamento religioso radical.

As aulas oferecidas no Estado de Hesse são parte de um crescente consenso de que a Alemanha, após décadas de negligência, terá de fazer mais para atender à sua população muçulmana se quiser fomentar a harmonia social, superar o processo de envelhecimento populacional e afastar uma potencial ameaça à segurança interna.

A necessidade, dizem muitos aqui, é mais urgente do que nunca. De acordo com autoridades do setor de segurança e reportagens na imprensa alemã, pelo menos dois jovens alemães em Hesse foram mortos recentemente na Síria depois de atenderem ao chamado da jihad e terem sido aparentemente recrutados por pregadores radicais salafistas em Frankfurt.

Tais casos acionaram o alarme não só pelo fato de alguns jovens alemães serem vulneráveis ao recrutamento, mas também por eles poderem depois trazer a luta para seu país de origem.

Outras partes da Europa com minorias muçulmanas em expansão estão enfrentando desafios similares de integração.

Uma resposta, esperam os funcionários de Hesse, está sendo posta em prática na escola. Ao oferecerem uma introdução básica ao islamismo para jovens muçulmanos logo na primeira etapa da escolarização, enfatizando seus ensinamentos sobre tolerância e aceitação, as autoridades esperam manter os jovens afastados do extremismo, ao mesmo tempo em que sinalizam a aceitação de sua fé pelo Estado.

Em uma sala de aula, Timur Kumlu pedia recentemente que cada um de seus 19 alunos de seis anos de idade pegasse o fio de um novelo de lã. Ele então orientou as crianças -cujos pais vieram de países muçulmanos tão diferentes como Afeganistão, Albânia, Marrocos e Turquia- a examinarem como, do mesmo modo que os fios, elas também estavam entrelaçadas.

"Agora estamos todos unidos -vocês vêm de diferentes países, e os seus pais também", disse Kumlu, que lembrou às crianças que elas nasceram na Alemanha. "Nós precisamos educar de modo que elas desenvolvam uma personalidade com raízes comuns, na Alemanha e no islã", disse ele.

Décadas de exclusão em relação àquilo que é considerado o padrão no país fizeram com que muitos muçulmanos da Alemanha aprendessem sua fé por meio do ensino mecânico nas escolas corânicas, de reflexões de tendência radical na internet ou no pátio de mesquitas em bairros de imigrantes nas grandes cidades, como Hamburgo e Berlim.

"Acho que está claro agora que, por muitos anos, nós cometemos o erro de alienar as pessoas", disse Nicola Beer, que, como ministra da Educação de Hesse, pressionou pela instrução islâmica. Agora, disse ela, os alemães reconhecem que "nós estamos aqui juntos, nós trabalhamos juntos e nós educamos nossos filhos juntos".

Fazil Altin, 34, advogado que preside a Federação Islâmica, disse que os muçulmanos e as autoridades de Berlim desperdiçaram 20 anos em batalhas judiciais sobre se o islamismo poderia ou não ser ensinado. Então, afirmou Altin, a federação aprovou uma aula semanal de 40 minutos, o que ele definiu como "irrisório".

A seu ver, será preciso mais do que educação formal do Estado sobre o islamismo para superar as discrepâncias culturais. "É difícil ser muçulmano na Alemanha", disse Altin. "O fato é que somos vistos como um perigo."

Sabine Achour, educadora alemã em Berlim, casada com um advogado marroquino, expressou dúvidas sobre a disposição dos alemães em chegar a um meio-termo com os muçulmanos. "Os professores daqui têm a sensação de que o islã e a democracia não se encaixam. Mesmo nas situações em que a lei islâmica, a "sharia", se enquadra nas práticas alemãs, ela não é aplicada."

Kumlu, 31, disse ter sido motivado por sua ignorância sobre o islamismo quando, sendo mais novo, se deparava com o preconceito. Seus alunos agora são da terceira a quinta gerações de alemães, afirmou, "e eles deveriam estar em pé de igualdade com outras religiões".


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