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New York Times

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Ancestrais do homem produziam mais vitaminas

Por CARL ZIMMER

Em 1602, uma frota de navios espanhóis navegava pela costa pacífica mexicana quando os tripulantes adoeceram mortalmente. "O primeiro sintoma é dor no corpo inteiro, que fica sensível ao toque", escreveu o padre Antonio de la Ascensión, membro da expedição. "Surgem manchas roxas por todo o corpo, especialmente da cintura para baixo. Em seguida, as gengivas incham tanto que se torna impossível cerrar os dentes, e [as pessoas] só conseguem beber líquido. Finalmente, todas morrem repentinamente, ainda falando."

A tripulação estava sofrendo de escorbuto, doença comum, mas ainda misteriosa. Ninguém sabia como curá-la. Então o padre Ascensión testemunhou o que pensou ser um milagre.

Quando os tripulantes foram para a terra sepultar os mortos, um marinheiro colheu um fruto de cacto para comer. Sentiu-se melhor. "Todos começaram a comer os frutos e os levaram a bordo dos navios, de modo que, após duas semanas, estavam curados", escreveu o padre.

Pouco a pouco, ficou claro que o escorbuto é provocado pela falta de frutas e verduras. Mas foi apenas em 1928 que o bioquímico húngaro Albert Szent-Gyorgyi descobriu o ingrediente que cura a doença: a vitamina C.

Os experimentos dele fizeram parte de uma onda de pesquisas sobre vitaminas feitas no início do século 20. Cientistas descobriram que o corpo humano precisa de quantidades minúsculas de 13 moléculas orgânicas. Uma deficiência de qualquer uma das vitaminas conduz a doenças diversas: a falta de vitamina A leva à cegueira, a de vitamina B12, à anemia grave, a falta de vitamina D provoca raquitismo. Mas como foi que ficamos tão dependentes dessas pequenas moléculas?

Parece que as vitaminas foram essenciais à vida desde o início, cerca de 4 bilhões de anos atrás. As primeiras formas de vida conseguiam produzir suas próprias vitaminas, mas algumas espécies posteriores perderam essa capacidade. As espécies começaram a depender umas das outras para obter vitaminas, criando um complexo fluxo de moléculas que cientistas batizaram de "tráfego de vitaminas".

Cada vitamina é composta por células vivas. A vitamina D, por exemplo, é produzida em nossa pele quando a luz solar entra em contato com um precursor do colesterol. O limoeiro produz vitamina C a partir de glicose. Enquanto uma proteína pode ser composta por milhares de átomos, uma vitamina pode ser feita de apenas algumas dúzias de átomos. No entanto, não obstante suas dimensões pequenas, as vitaminas expandem nossa versatilidade química. Uma vitamina coopera com proteínas para ajudá-las a realizar reações que não conseguiriam fazer sozinhas.

"Bactérias, fungos, plantas, humanos -todos precisam delas", comentou o bioquímico Harold B. White 3°, da Universidade de Delaware. Quando a capacidade de produzir vitaminas se desenvolveu, algumas espécies se tornaram especialmente hábeis nisso. As plantas, por exemplo, converteram-se em fábricas de vitamina C, enchendo seus frutos e folhas com a molécula.

As plantas levaram centenas de milhões de anos para se tornarem fabricantes eficientes de vitamina C, mas a produção de vitaminas pode mudar em muito menos tempo que isso. Nossos ancestrais precisaram de poucos milhares de anos para modificar sua produção de vitamina D. Quando os humanos deixaram a África equatorial e se espalharam por latitudes mais altas, o céu ficava mais baixo no céu e fornecia menos luz ultravioleta. Ao desenvolver pele mais clara, europeus e asiáticos puderam continuar a produzir um nível saudável de vitamina D.

Tirando as vitaminas D e K, não conseguimos produzir nenhuma das vitaminas de que necessitamos. Em alguns casos, nossos ancestrais eram capazes de produzi-las, mas perderam esta capacidade.

Muitos vertebrados conseguem produzir vitamina C. "Nós também deveríamos conseguir produzi-la, considerando que temos todos os genes para isso", comentou Rebecca Stevens, do Instituto Nacional de Pesquisas Agrícolas francês. Diferentemente de uma rã ou de um canguru, porém, temos mutações em um desses genes, conhecido como GULO. Incapazes de fabricar a proteína GULO, não conseguimos produzir vitamina C.

Os humanos tampouco conseguem produzir vitamina B12. Logo, precisamos obtê-la dos alimentos, como da carne. Mas os animais que consumimos não produzem B12 em suas próprias células. Em vez disso, a vitamina é fabricada pelas bactérias presentes nos intestinos deles.

Também nós abrigamos milhares de espécies de bactérias, que consomem os alimentos que comemos e sintetizam vitaminas. Isso quer dizer que dependemos de nosso próprio tráfego interno de vitaminas?

"Essa ainda é uma teoria", disse Douwe van Sinderen, da University College Cork, na Irlanda. "Mas as evidências de que as bactérias podem fornecer algumas das vitaminas de que precisamos estão aumentando."


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