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New York Times

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Lente

Guerras sem fim

No retorno ao lar, o tenente foi saudado por uma multidão que agitava bandeiras. Desfiles o recepcionaram. Políticos proferiram discursos.

O herói que regressava era Hiroo Onoda, e o ano era 1974 -29 anos depois de o Exército Imperial Japonês, de Onoda, terminar a Segunda Guerra Mundial do lado errado. Onoda, que morreu em 16 de janeiro, aos 91 anos, havia se mantido firme por todos esses anos na selva das Filipinas, sem saber que a guerra havia terminado e se recusando a abandonar sua missão.

Com a história dele, o Japão encontrou "uma lembrança das qualidades redentoras do dever e da perseverança", escreveu o "NYT". "A história e a literatura japonesas estão repletas de heróis que permaneceram leais a uma causa, especialmente se ela estiver perdida ou sem esperança". Onoda "parecia para muitos um samurai de antigamente".

O "NYT" o descreveu como "um dos últimos recalcitrantes da guerra", mas as batalhas raramente terminam quando todos os soldados voltam para casa. Em dezembro, o premiê Shinzo Abe reabriu uma velha ferida com os vizinhos asiáticos do Japão ao visitar o Templo Yasukuni, onde todos os mortos das guerras do país são homenageados, incluindo criminosos de guerra.

Mesmo entre aliados, os sacrifícios e triunfos podem causar divisões durante muito tempo depois de as armas se calarem.

Na costa italiana, as localidades de Anzio e Nettuno se reuniram por décadas para celebrar o desembarque das forças Aliadas a caminho de libertar Roma. Não mais.

Quando os Aliados chegaram, em 22 de janeiro de 1944, os soldados desembarcaram tanto em Nettuno como em Anzio, mas as referências históricas consideram Anzio como o principal local de desembarque.

Nettuno, sentindo-se menosprezada, decidiu instituir sua própria celebração. "Queremos restabelecer uma série de verdades históricas", disse Alessio Chiavetta, o prefeito de Nettuno, ao "NYT". "Queremos lembrar o desembarque como algo que envolveu tanto Anzio quanto Nettuno pela libertação de Roma."

O prefeito de Anzio, Luciano Bruschini, encarou a decisão de outra forma. "É uma manobra para mudar a história do desembarque que contraria os mapas militares", afirmou. "Já houve livros e filmes sobre o desembarque de Anzio. Sempre foi chamado de desembarque de Anzio."

Além disso, dizem os moradores de Anzio, os sacrifícios bélicos das duas cidades são incomparáveis. "A cidade foi destruída por bombas", disse Bruschini, "mas Nettuno quase não foi tocada".

As guerras deixam essas cicatrizes duradouras para os que lutaram, para os que não lutaram e para os que nem tinham nascido. Veja a cizânia na localidade de Olustee, cenário da maior batalha da Flórida na Guerra Civil Americana. No ano passado, um grupo intitulado Filhos dos Veteranos da União da Guerra Civil pediu para instalar um monumento aos soldados da União num parque estadual que marca o campo de batalha -um parque onde já há três monumentos a soldados Confederados, os quais foram derrotados na guerra, mas ganharam a batalha. A solicitação enfrentou forte oposição de outro grupo: os Filhos dos Veteranos Confederados.

"Para os descendentes dos Confederados no norte da Flórida, a decisão foi vista como a mais recente saraivada contra os valores e tradições desta área", escreveu o "NYT". Charles Custer, 83, cujos ancestrais lutaram em ambos os lados da guerra -que terminou em 1865-, viu a disputa em termos mais simples.

"Há alguns, aparentemente, que consideram que esta é uma trégua prolongada", afirmou, "e que a guerra continua".

ALAN MATTINGLY Envie comentários para nytweekly@nytimes.com


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