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New York Times

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Análise

A franquia da Al Qaeda

Por BEN HUBBARD BEIRUTE, Líbano - A carta tinha o tom corporativo de um CEO resolvendo uma disputa entre dois diretores. Em prosa formal e com listas numeradas, Ayman al-Zawahri, líder da Al Qaeda, instruiu um dos afiliados do grupo na Síria a se retirar para o Iraque e deixar as operações dali para outro.

A resposta foi inequívoca. Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), declarou que seus combatentes permaneceriam na Síria "enquanto tivermos uma veia que pulse e um olho que pisque".

Foi a primeira vez na história da mais famosa organização terrorista do mundo que um afiliado rompeu publicamente com a liderança internacional, e a notícia enviou ondas de choque pelos fóruns on-line onde os jihadistas se reúnem.

Essa cisão, em junho, foi um divisor de águas na vasta descentralização da Al Qaeda desde o 11 de Setembro. Enquanto o poder da liderança central criada por Osama bin Laden declinava, a vanguarda da jihad violenta foi assumida por uma série de grupos em uma dezena de países da África e do Oriente Médio, atacando interesses ocidentais na Argélia e na Líbia, treinando homens-bomba no Iêmen, ocupando territórios na Síria e no Iraque e disparando contra consumidores no Quênia.

O que une esses grupos, dizem especialistas, é uma ideologia frouxa que qualquer grupo pode pegar para si e aplicar conforme considere adequado, enquanto adquire a mística de um nome de marca conhecido.

"Hoje a Al Qaeda é uma espécie de kit pronto", disse William McCants, estudioso da militância islâmica no Instituto Brookings, organização de pesquisas políticas em Washington. "É uma ideologia portátil que está totalmente desenvolvida, com seus próprios símbolos e modos de mobilizar pessoas e dinheiro para a causa. De muitas maneiras, você não precisa aderir à organização real para obter esses benefícios."

Isso tornou mais difícil definir o que significa ser da "Al Qaeda" e avaliar e combater suas ameaças. Discórdias sobre definições da Al Qaeda animaram debates em Washington sobre os perpetradores do ataque em 2012 ao complexo diplomático dos Estados Unidos em Benghazi, na Líbia. Embora as agências de inteligência e o Departamento de Estado dos EUA não considerem o grupo militante Ansar al-Shariah, de Benghazi, um afiliado da Al Qaeda, alguns críticos republicanos do presidente Obama afirmam que sua visão puritana, anti-Ocidente, faz que ele se transforme em um. As operações de contraterrorismo americanas desde o 11 de Setembro prejudicaram a organização original da Al Qaeda. Elas mataram Bin Laden e outros líderes importantes, e a vigilância impede a comunicação com afiliados.

O modelo de franquia foi essencial para a sobrevivência do grupo, embora signifique que os afiliados muitas vezes sejam independentes e se concentrem mais em lutas locais do que em atacar o Ocidente.

"Realmente não há mais uma Al Qaeda", disse Gregory D. Johnsen, autor de "The Last Refuge" [O último refúgio], livro sobre a Al Qaeda no Iêmen. "Ela assume o sabor do lugar onde estiver."

O EIIL tem milhares de combatentes estrangeiros que ocuparam territórios no Iraque e na Síria. Sua corrida para controlar recursos e impor códigos islâmicos rígidos fez outros grupos rebeldes reagirem, e os combates entre os lados mataram mais de 1.400 pessoas nas últimas semanas.

Outro grupo da Al Qaeda na Síria, a Frente al-Nusra, continua leal a Zawahri, mas mantém boas relações com o movimento rebelde mais amplo que compartilha o objetivo americano de se livrar do ditador Bashar al-Assad.

Além de sua afiliação declarada à Al Qaeda, pouco separa a Frente al-Nusra de outros batalhões islâmicos que combatem na Síria. Um deles, Ahrar al-Sham, tem um membro da Al Qaeda em sua liderança.

Analistas dizem que hoje faz sentido diferenciar entre grupos com um enfoque local e os ativamente decididos a atacar o Ocidente.

Nesta linha de pensamento, o grupo mais preocupante é a Al Qaeda na Península Arábica, que é liderado por um associado de Bin Laden no Iêmen e tentou atacar os Estados Unidos diversas vezes.

Outros afirmam que até grupos localizados veem a si próprios travando uma luta internacional. Muitos acreditaram que a Shabab na Somália, afiliada à Al Qaeda, fosse local até que seus atiradores invadiram o shopping Westagte em Nairóbi, no Quênia.

E o obscuro jihadista argelino Mokhtar Belmokhtar parecia se concentrar em seus negócios de contrabando e sequestro trans-saariano até que seu grupo atacou uma usina de gás natural em In Amenas, na Argélia, procurando estrangeiros para sequestrar e matar.

"O que você está vendo no Oriente Médio é um problema de militância combinado com território sem governo", disse Ramzy Mardini, membro do instituto de políticas Conselho Atlântico, em Washington. "Esse é o verdadeiro problema, não quais grupos pertencem à Al Qaeda e como podemos nos livrar deles."


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