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New York Times

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Estudo foca "mistério" da preguiça

Por NICHOLAS WADE

A preguiça-de-três-dedos não é tanto um animal quanto um ecossistema ambulante. Este consiste em: a) a preguiça, b) uma espécie de mariposa que vive apenas na pelagem da preguiça e c) uma espécie dedicada de alga que cresce em canais especiais nos sulcos dos pelos da preguiça. Basta pentear os pelos de uma preguiça-de-três-dedos para que mais de uma centena de mariposas saiam voando.

A interação provável desses três componentes foi analisada por uma equipe de biólogos liderada por Jonathan N. Pauli e M. Zachariah Peery, da Universidade do Wisconsin. O primeiro passo da equipe foi estudar um mistério que há 35 anos cerca o comportamento da preguiça, que vive nas florestas da América Central e do Sul.

Mais ou menos uma vez por semana, a preguiça desce de sua árvore para defecar. Ela cava um buraco, cobre o excremento com folhas e, quando tem sorte, volta a subir a árvore. A preguiça é altamente vulnerável quando está no chão, onde se torna presa fácil.

Por que a preguiça corre esse risco? Os pesquisadores que primeiro chamaram a atenção para esse enigma, em 1978, sugeriram que ela quisesse fertilizar sua árvore favorita. Enquanto isso, pensava-se que as algas que conferem o tom esverdeado à pelagem da preguiça dessem camuflagem a ela. Escrevendo recentemente na "Proceedings of the Royal Society B", os pesquisadores de Wisconsin montaram essas peças de outra maneira. Eles começaram por tentar entender a razão pela qual a preguiça empreende a perigosa descida semanal para o solo.

A conclusão deles foi que não deveria ser para beneficiar a árvore, já que as fezes da preguiça devem fazer pouca diferença para a nutrição da árvore. Em vez disso, propuseram, seria para beneficiar um componente crítico do ecossistema da preguiça: as mariposas da família Pyralidae. A descida oferece às mariposas a chance de pôr ovos.

As lagartas das mariposas são coprófagas (consumidoras de fezes). Elas atingem a maturidade nas bolotas de excrementos da preguiça; depois de eclodir, voam até as árvores em busca de uma preguiça hospedeira. Mergulhando na pelagem dela, ali vivem felizes pelo resto de suas vidas.

Depois que morrem, seus corpos são decompostos pelo exército de fungos e bactérias presentes na pelagem da preguiça. Os produtos metabólicos dessa decomposição, especialmente o nitrogênio, alimentam as algas que crescem nos feixes de pelos da preguiça. Os pesquisadores lançaram a hipótese de que as preguiças pudessem consumir as algas de seus próprios pelos e que essa poderia ser a finalidade do sistema inteiro.

As folhas são nutritivamente pobres, e os animais que dependem delas para viver, como os gorilas, muitas vezes precisam de vísceras grandes para conter grande volume de folhas. A preguiça, que precisa agarrar-se a galhos finos, não pode ter vísceras grandes. Ela se movimenta devagar porque cada caloria é importante. Para ela, vale a pena desacelerar seu metabolismo.

Quanto maior é a infestação de mariposas, mais nitrogênio uma preguiça-de-três-dedos carrega em sua pelagem, e maior a quantidade de algas. Uma análise de conteúdo estomacal revelou que as preguiças de fato estavam comendo as algas.

As preguiças-de-dois-dedos, que defecam nas próprias árvores, também hospedam mariposas, mas em menor grau. Mesmo assim, elas parecem aproveitar o mutualismo envolvendo preguiças, mariposas e algas, sem correr os riscos.

Engenheiros genéticos às vezes sonham em inserir moléculas de clorofila em células de pele humana, para que as pessoas possam criar seus próprios alimentos por fotossíntese. A preguiça-de-três-dedos teve a ideia antes, provavelmente milhões de anos atrás.


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