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Ensaio - Neil Genzlinger

Os "truta" de Romeu em Verona

Em uma biblioteca, um sujeito afável, que se apresenta como Sparky Sweets, Ph.D., oferece resumos em vídeo de clássicos da literatura na linguagem das ruas, pincelados com um pouco de análise. Sweets, cujo guarda-roupa se inclina para os shorts e uma ampla gama de bandanas e bonés, disserta a cada semana sobre um novo volume no thug-notes.com. O lema do site: "Literatura Clássica. Gângster Original".

No mundo de Sweets (que é um comediante chamado Greg Edwards), Queequeg, de "Moby Dick", é "um certo arpoador tatuado". E os personagens de uma adorada peça de Shakespeare incluem "Benvolio e Mercutio, os truta do Romeu".

Edwards, falando a caráter em uma entrevista ao "Tampa Bay Times" meses atrás, descreveu o Thug Notes como seu "jeito de banalizar a tentativa da academia de tornar a literatura excludente, ao mostrar que mesmo conceitos acadêmicos eruditos podem ser comunicados de forma clara e aberta".

O site consegue transformar "O Morro dos Ventos Uivantes", "Orgulho e Preconceito" e outras obras em pequenos tópicos divertidos (os vídeos geralmente têm menos de cinco minutos), ao mesmo tempo em que transmite respeito pelo material original. O resumo de "Romeu e Julieta" feito pelo doutor pode estar repleto de gírias impublicáveis, mas termina com um debate sobre os confrontos de opostos na prática e se a peça pode ser corretamente definida como uma tragédia. Ele pode menosprezar o miolo de "Moby Dick" como "umas 500 páginas sobre Ishmael indo à caça da baleia" (e terminando essa frase com um palavrão), mas tem pensamentos publicáveis sobre o simbolismo da baleia, da busca e da embarcação -a Rachel- que resgata Ishmael. "Se segura, mano", conclui ele, "que em algum lugar todo mundo tem sua Rachel que está aí para nos salvar".

O Thug Notes é um exemplo bem executado de uma tendência que está no ar há anos: a aplicação da sensibilidade das ruas à alta cultura. Shakespeare já teve um tratamento de hip-hop (na peça "The Bomb-itty of Errors") no século passado. Um pouco desse truque sempre rende, razão pela qual a internet, território dos vídeos curtos, é seu lar natural.

O Epic Rap Battles of History [épicas batalhas de rap da história] atrai dezenas de milhões de espectadores com seus duelos verbais ridículos e obscenos ("Nikola Tesla x Thomas Edison", "Cleópatra x Marilyn Monroe"). E, se você conseguir aguentar a irreverência, o BubalaPlease.com faz uma hilária mistura de "gangsta" e judaísmo (episódio 4: "We Doin' Purim" ("É nóis no Purim"); episódio 7: "Gangsta Bris" ("Circuncisão gangsta").

Praticamente qualquer um pode tentar esse tipo de coisa -e parece que praticamente todos já tentaram. Nem chega a ser necessário ter alguma criatividade, já que há ferramentas da web, como o Gizoogle.net, que podem providenciar qualquer frase que você se dispuser a digitar para encarnar o "gangsta".

Racista? Há quem pense que sim. De qualquer modo, por melhor que seja o Thug Notes, nós não queremos que essa tendência vá muito além. Sim, isso significa exigir que somente profissionais capacitados, como Sweets, tentem produzir esse tipo de material. Pode parecer que há aí uma infração às liberdades civis, mas relaxe. A Carta de Direitos dos EUA assegura "o direito dos mano dar um rolê na paz e de pedir pras autoridade resolver as parada". Mas não diz nada sobre o direito de fazer rap.


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