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New York Times

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Sem supervisão técnica ou segurança, limpeza de Fukushima fracassa

Usina de Fukushima busca trabalhadores a todo custo

Por HIROKO TABUCHI

NARAHA, Japão - "Está desempregado? Não tem onde morar? Nenhum lugar para ir? Nada para comer?", diz o anúncio on-line. "Venha para Fukushima."

Essa publicação sombria de uma companhia em busca de trabalhadores para a usina nuclear destruída de Fukushima Daiichi é um dos indícios mais evidentes até hoje de uma busca cada vez mais difícil por trabalhadores dispostos a realizar a perigosa descontaminação do local.

A operadora da usina, a Companhia de Energia Elétrica de Tóquio, conhecida como Tepco (a sigla em inglês), vem deixando a limpeza do complexo para uma mão de obra com frequência mal dirigida, pouco treinada, desmoralizada e às vezes desqualificada, que já cometeu erros perigosos.

Ao mesmo tempo, a empresa despeja recursos em outra usina, Kashiwazaki-Kariwa, que ela espera reiniciar neste ano como parte do programa do governo para retornar à energia nuclear, três anos depois do segundo pior desastre nuclear do mundo. A medida foi criticada por alguns membros do conselho regulador nuclear do país.

Essa mudança de atenção está deixando a complexa limpeza de Fukushima para o que os trabalhadores e outros dizem que é uma força-tarefa muitas vezes reunida por intermediários pouco preocupados com perícia técnica e segurança.

Reguladores, empreiteiras e trabalhadores atuais e antigos dizem que a deterioração das condições de trabalho é uma das principais causas de uma série de grandes vazamentos de água contaminada e outros erros que prejudicaram o ambiente e colocaram trabalhadores em perigo.

Essa crise ficou especialmente clara em outubro passado, quando uma equipe de trabalhadores contratados foi enviada para remover mangueiras e válvulas como parte de uma atualização do sistema de purificação de água.

Segundo relatórios da Tepco, a equipe recebeu apenas uma instrução de 20 minutos de um supervisor e não recebeu nenhum diagrama do sistema que deveria consertar nem uma revisão dos procedimentos de segurança -um cenário que um ex-supervisor da usina chamou de impensável. Pior ainda, os trabalhadores não foram advertidos de que uma mangueira perto da que eles removeriam estava cheia de água contaminada com césio radioativo.

Quando os homens partiram com seus equipamentos de proteção, o supervisor foi verificar outra equipe. Os trabalhadores escolheram a mangueira errada e uma torrente de água radioativa começou a vazar. Em pânico, eles colocaram as mãos enluvadas na água para tentar conter o vazamento, molhando a si próprios e a dois outros trabalhadores que correram para ajudar.

Embora os trabalhadores tenham recebido exposições significativas, Shigeharu Nakachi, especialista nos efeitos da poluição para a saúde, disse que não foi suficiente para causar doenças de radiação. Ainda assim, ele disse que essas exposições foram "algo que deveria ser evitado a todo custo".

A Tepco se recusou a divulgar um relato completo de um vazamento recente na usina que ocorreu quando trabalhadores que enchiam tanques de armazenamento com água contaminada a desviaram remotamente para o tanque errado. A falta de informação disponível leva à confusão dos trabalhadores. Eles ignoraram um alarme de transbordamento porque há alarmes tocando o tempo todo.

"É um erro extremamente elementar", disse Toyoshi Fuketa, comissário da Autoridade de Regulamentação Nuclear. "Se um alarme de incêndio dispara em sua casa, você fica preocupado. Imagine em uma usina nuclear."

Segundo registros da empresa, os trabalhadores contratados em Fukushima Daiichi recebem em média mais que o dobro da exposição à radiação que os funcionários da Tepco.

A Tepco prometeu aumentar o pagamento para compensar o risco e a natureza instável do trabalho. Mas os trabalhadores em um dormitório perto da usina estavam descrentes.

Os homens estavam abrigados em quartos pequenos, cada um com uma cama e uma mesa. Disseram que há pouco para fazer à noite além de assistir TV, jogar roleta em um pequena sala de jogos e beber. Uma loja no interior da "J-Village" -a base da Tepco fora da usina- vende cerveja, uísque e saquê. Muitos relatos dizem que o alcoolismo é frequente.

Como os corretores de mão de obra tentam desesperadamente manter 3.000 trabalhadores na usina, eles publicam as ofertas de emprego deixando claro que seus padrões são baixos. Um anúncio para trabalhar em monitoração da radiação dizia: "Você deve ter bom senso e ser capaz de conduzir uma conversa".


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