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New York Times

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Assassinatos marcam Líbia pós-Gaddafi

Por CARLOTTA GALL

TRÍPOLI, Líbia - Para o juiz Jamal Bennour, um dos líderes do levante líbio, a revolução azedou no dia em que seu amigo e colega advogado Abdul-Salam al Musmari foi morto a tiros diante dele. Foi em julho passado, quase dois anos depois de os dois terem ajudado a depor o coronel Muammar Gaddafi e um ano desde que tinham deixado o governo, cedendo o poder ao Congresso Nacional Geral. Os dois amigos caminhavam na rua quando um homem esticou o braço para fora de um carro que passava ao lado e atirou no peito de Musmari.

Desde a revolução de 2011, a Líbia vem sofrendo uma sangria generalizada. Mais de 1.200 pessoas foram mortas nos últimos dois anos, vítimas de vinganças, choques de poder e criminalidade em espiral crescente.

As divisões políticas no interior do Congresso Nacional Geral, com grupos apoiados por milícias rivais, deixaram o governo quase sem poder. O premiê Ali Zeidan exercia pouco controle antes de ser deposto por uma votação, em 11 de março, e o país está sem ministro do Interior desde agosto, quando o último renunciou ao cargo.

Nenhum lugar foi mais atingido que Benghazi, a segunda maior cidade do país e berço do levante líbio. Mais de cem figuras de destaque, funcionários seniores de segurança, juízes e ativistas políticos foram assassinados em dois anos, e a onda de assassinatos está destruindo a liderança local e paralisando o governo.

Benghazi é a cidade onde o embaixador americano J. Christopher Stevens e três outros americanos morreram em setembro de 2012, num ataque à representação dos EUA na cidade. Os moradores de Benghazi se queixam há tempos do comportamento descontrolado das milícias, entre as quais estão alguns grupos islâmicos extremistas que mantêm bases ali.

Algumas das mortes também são atribuídas a grupos de contrabandistas e do crime organizado, às centenas de criminosos comuns que escaparam das prisões de Gaddafi durante o levante e aos arsenais de armas roubadas.

Legisladores e ativistas da região descrevem os assassinatos políticos como uma campanha para extinguir a esperança de construir uma nação estável e democrática.

Musmari, o homem morto em julho do ano passado, era líder da coalizão 17 de Fevereiro, grupo de advogados e ativistas que comandou o governo rebelde em Benghazi durante a guerra.

Três anos após a revolução, muitos integrantes do grupo já abandonaram sua cidade. "A maioria das pessoas foi obrigada a partir", comentou o juiz Bennour. "A maioria deixou a Líbia para tentar obter asilo político."

O próprio juiz Bennour escapou por pouco de ser morto num atentado, dez dias antes de Musmari ser assassinado. Ele recebeu tantas ameaças que três meses atrás mudou sua família para Trípoli. Hoje, vive escondido, separado de seus parentes.

As primeiras vítimas foram ex-oficiais de segurança do regime de Gaddafi. Mas, segundo um diplomata ocidental, cada vez mais são policiais mais jovens que estão sendo alvejados.

Num aparente esforço para afastar aliados do novo Estado líbio, também vêm sendo atacados consulados de outros países e profissionais estrangeiros, incluindo diplomatas e trabalhadores de países vizinhos como Tunísia e Egito.

Em uma semana recente, sete comerciantes egípcios foram sequestrados e executados, um engenheiro francês foi abatido a tiros e seis líbios foram mortos a bala. Outros foram feridos em ataques malsucedidos.

Para o juiz Bennour, a criminalidade organizada, partidários de Gaddafi e islâmicos têm interesse em ver a revolução fracassar.

Os observadores que acompanham a campanha de assassinatos a veem como uma tentativa de liquidar adversários entre a liderança local, algo remanescente de campanhas passadas da Al Qaeda e de outros extremistas nas regiões tribais do Paquistão e do Iraque.

"É um processo sistemático que visa eliminar a construção de um Estado moderno", opinou um parlamentar que faz parte do Comitê de Segurança Nacional, em Trípoli.

"Os radicais querem erradicar o aparato de segurança e viver de acordo com a sharia.

Eles não querem um Estado com Exército e forças de segurança." Ainda segundo o parlamentar, o método empregado é o terror. "Se você mete medo nas pessoas, não terá um Exército e uma polícia, e assim você poderá controlar o território."


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