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New York Times

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Após reformas, exilados voltam a Cuba

Por DAMIEN CAVE

HAVANA - As ideias de negócios variam de uma franquia de biquínis a restaurantes e empresas de design de software. Mas, em um país onde antes o empreendedorismo era ilegal, o que é mais inovador que as ideias propostas é a força financeira por trás delas: cubano-americanos cujas famílias perderam seus bens anteriores para o governo comunista de Cuba.

"O importante é as pessoas não perderem a esperança e entenderem que abrir um negócio é uma maneira de melhorar suas vidas", comentou Eduardo Mestre, 65, banqueiro de Wall Street que voltou a Cuba no ano passado, pela primeira vez desde 1960, para ver o treinamento em abertura de empresas que ele ajuda a financiar.

"Emocionalmente falando, é difícil não sentir empatia com pessoas que têm toda essa ambição, num lugar onde é muito difícil manter a esperança acesa."

Muitos dos primeiros cubanos a deixar a ilha após a chegada ao poder de Fidel Castro estão se reaproximando do país que deixaram, superando décadas de oposição acalorada aos seus líderes e formando parcerias.

Alguns estão ensinando uma nova safra de empreendedores cubanos a tirar proveito das recentes aberturas limitadas para empreendimentos privados em Cuba. Exilados cubanos em Miami também ajudaram a financiar a reforma do mais reverenciado santuário católico cubano. Os jovens herdeiros da família Bacardi, que abandonaram Cuba após a revolução, deixando para trás casas luxuosas e uma empresa de fabricação de rum que empregava 6.000 pessoas, estão enviando assistência emergencial e apoiando artistas. Alfonso Fajul, grande produtor de açúcar na Flórida, disse recentemente que já voltou duas vezes a Cuba, onde encontrou autoridades cubanas. Ele declarou que considera a possibilidade de investir no país, sob as "circunstâncias certas".

É uma mudança de postura espantosa para uma comunidade de exilados que há anos apoia o embargo norte-americano. E, embora a atividade seja legal, graças a exceções às sanções, alguns parlamentares cubano-americanos reagiram com manifestações de ultraje.

Mesmo assim, o que emergiu quando o ditador Raúl Castro promoveu uma abertura limitada da economia é uma abordagem alternativa que destaca o engajamento no nível das bases, em muitos casos por meio de igrejas, como ferramenta para proporcionar aos cubanos know-how e independência do Estado.

"Achamos que o engajamento, o diálogo e a interação -a diminuição das barreiras- são a melhor maneira de desenvolver a sociedade civil", disse Mestre, "mas também alguns de nós -que temos algum respeito pelos 11 milhões de pessoas que não têm como sair de lá- sentimos que é a coisa certa a fazer."

A Fundação Cuba Emprende, organização sem fins lucrativos de cujo conselho de direção Mestre faz parte, vem se esforçando para garantir às autoridades cubanas que seus fundadores estão interessados apenas em fomentar a abertura de pequenos negócios, dentro da linha da política econômica declarada do governo.

Autoridades cubanas sugerem que a Cuba Emprende faça parte de um complô secreto de Washington, dizem membros do conselho da organização. Falando de modo anônimo para proteger o programa, um instrutor cubano em Havana disse que a pressão vem aumentando conforme a Cuba Emprende cresce. Em meados de março, 731 alunos já tinham concluído o curso de 80 horas dado pela fundação.

Uma das primeiras a completar o curso da Cuba Emprende, em 2012, disse que o programa a ajudou em muito a realizar seu sonho. Niuris Higueras Martínez, 39, abriu o restaurante Atelier, um dos mais frequentados de Havana. "Tudo naquele curso foi importante", disse ela, que aprendeu a fazer a contabilidade e a mudar o cardápio na baixa temporada.

Hoje, no negócio dela e em outros, há uma demanda por mais oportunidades, mas também barreiras. As leis cubanas e o embargo americano proíbem a Cuba Emprende de financiar as ideias de seus alunos, como gostaria. Sem capital suficiente para empreendimentos maiores, incluindo o sonho de Higueras de abrir uma escola de culinária, alguns projetos não passam de visões.

Mas, durante o horário mais corrido do jantar no Atelier, com estrangeiros e cubanos desfrutando de comida e serviço de um tipo que tinha desaparecido de Havana durante décadas, Higueras falou do quanto ela já avançou.

"Se você tem 15 empregados, tem pelo menos dez famílias cujos problemas se resolvem de repente", disse. "Se você abre um pouco, ganha muito."


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