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New York Times

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Colecionadores apostam em jovem artista

Por CAROL VOGEL

LONDRES - No mês passado, na casa Christie's de Londres, começou a disputa de lances por uma pintura abstrata cheia de riscos pretos, com a palavra "Burrito" rabiscada na parte de cima em amarelo brilhante. O leiloeiro anunciou que já havia 17 compradores ausentes ou por telefone de olho nessa tela, feita há três anos por Oscar Murillo, que acabou de completar 28 anos.

Embora Murillo seja pouco conhecido fora dos fechados círculos da arte contemporânea e haja um bom quinhão de céticos quanto a suas obras, seus fãs o chamam de "o Basquiat do século 21". Naquela noite, a tela "Sem Título (Burrito)" foi vendida por US$ 322.870, mais de seis vezes a estimativa máxima pré-venda.

Há apenas dois anos, Murillo, que nasceu na Colômbia, estava limpando escritórios para pagar seus gastos no Royal College of Art, em Londres. Agora, ele é representado pela David Zwirner, uma das mais prestigiosas galerias do mundo.

A história de como Murillo despontou da condição de estudante em dificuldades para a de astro da arte -cortejado por marchands de primeira linha e cercado por curadores que requisitam seu trabalho para exposições em museus ou bienais- reflete o modo como o investimento em arte contemporânea se tornou um jogo, da mesma forma que as ações e o mercado imobiliário. Colecionar obras de artistas em ascensão, como Lucien Smith, Jacob Kassay, Sterling Ruby ou Murillo, é um esporte competitivo entre um número crescente de compradores que estão apostando em futuras estrelas.

Em recente passagem por Nova York, Murillo falou sobre os planos de uma exposição em uma das galerias David Zwirner na cidade, com abertura marcada para 24 de abril. O artista, normalmente descontraído, irritou-se quando indagado sobre como é ser tão requisitado, sabendo que o mundo da arte é tão volúvel. "Não gosto de pensar nisso", respondeu, admitindo que a atenção é lisonjeira, mas arriscada.

"Este é um mercado sedento pelos 'players' do futuro", disse Allan Schwartzman, consultor de arte em Manhattan. "Mas quase todo artista que recebe muita atenção tão cedo em sua carreira está destinado ao fracasso. O clarão é simplesmente brilhante demais para que eles evoluam."

Como seus pais, que trabalharam como faxineiros e se mudaram da minúscula localidade colombiana de La Paila para Londres quando Murillo tinha dez anos, ele é um trabalhador incansável. Mesmo quando era estudante, colecionadores e amigos estavam tão convencidos de seu sucesso futuro que ocasionalmente pagavam US$ 2.000 por uma pintura. Morando na zona leste de Londres, área que tem uma vida artística vibrante, ele conheceu pessoas como o marchand Rodolphe von Hofmannsthal, anos antes de ele se associar à David Zwirner.

A súbita ascensão de Murillo nos EUA data de março de 2012, quando Donald e Mera Rubell, colecionadores experientes de Miami, viram um conjunto de pinturas de Murillo criadas para o marchand Stuart Shave, de Londres, e expostas na Independent Art Fair, em Nova York. O casal Rubell convidou Murillo para visitar sua casa e a Fundação de Artes Contemporâneas, em Miami. Ele passou seis semanas lá e criou uma série de telas de grandes dimensões. "A última vez que eu vi esse tipo de energia foi em Keith Haring ou Jean-Michel [Basquiat]", disse Mera Rubell. Naquele mês de dezembro, o casal Rubell expôs as pinturas.

"Ver o trabalho dele nos Rubells deu confiança aos colecionadores", disse Benjamin Godsill, especialista em arte contemporânea na casa de leilões Phillips. "As pessoas agora reconhecem a sua pintura."

Algumas pessoas, porém, rejeitam seu trabalho, definindo-o como modismo ou uma derivação de obras de artistas como Julian Schnabel e, naturalmente, Basquiat. Depois da inauguração da exposição "Oscar Murillo: Distribution Center", em Los Angeles, em janeiro, David Pagel, do "Los Angeles Times", qualificou algumas das pinturas como "anêmicas", dizendo que "cada grande peça é menos convincente do que uma polegada quadrada de qualquer coisa que Jean-Michel Basquiat tenha tocado". Ele acrescentou que a mostra "define nossa época, uma espécie de era de ouro anabolizada, quando o passado é reembalado como farsa".

Com relação a seus críticos, Murillo disse: "Se eu estivesse olhando a partir do outro lado, estaria cético também". "Não me sinto como parte de nenhuma comunidade artística", disse Murillo. "Tenho mulher e uma filha de quatro anos. Sou muito próximo dos meus pais e da minha irmã."

Ao ser questionado sobre se sente medo de que, como muitos artistas antes dele, sua estrela se apague tão rapidamente quanto surgiu, ele respondeu: "Só estou trabalhando e tentando não prestar atenção no resto".


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