Folha de S.Paulo

Vinícolas argentinas seduzem investidores

Alta inflação no país, no entanto, traz desafios

Por ADRIENNE CARTER

VISTA FLORES, Argentina - É difícil achar algum defeito em um almoço no Siete Fuegos, restaurante no novo Vines Resort & Spa na província de Mendoza. O steak grelhado é perfeito. O vinho espumante Torrontés se harmoniza divinamente com o sorvete caseiro de doce de leite. O salão ao ar livre tem vista para hectares de vinhedos, com os Andes nevados ao fundo.

No entanto, Michael Evans, o empresário americano por trás do Vines, quer mais aperfeiçoamentos. Para encerrar o almoço, um garçom serve a um hóspede um "cortado" -um espresso com leite quente- e uma porção de cookies. Evans sugere discretamente a sua equipe que, se uma pessoa à mesa ganhar cookies, as demais também devem receber esse mimo.

Evans e seus parceiros estão investindo US$ 16 milhões no Vines Resort, propriedade rural de 650 hectares que visa proporcionar aos hóspedes uma "experiência" no interior da Argentina, com direito a muitas mordomias. A diária dos quartos varia de US$ 510 a quase US$ 2.000.

"Nosso foco em tudo é: qual será o impacto disto para o cliente?", comentou Evans. "Eu me coloco muito mais no papel de cliente do que no de um produtor de vinho ou de dono de hotel".

A equipe do Vines é um exemplo do número crescente de investidores que está construindo ou expandindo propriedades luxuosas por aqui. Eles acreditam no potencial de Mendoza para ser o próximo Napa Valley, na Califórnia, ou Bordeaux, na França.

Como a demanda superou a capacidade de ocupação do Cavas Wine Lodge, em funcionamento há nove anos, os proprietários recentemente acrescentaram três villas. José Manuel Ortega Gil-Fournier, ex-banqueiro de investimentos no Goldman Sachs que fundou a vinícola-butique O. Fournier, pretende trazer inovações com um hotel de 40 quartos neste ano.

Mendoza tem uma defasagem de décadas em relação a regiões vinícolas nos Estados Unidos e na Europa, o que significa muito espaço para novos empreendimentos. Os preços da terra são relativamente baixos e a concorrência aqui é amigável.

A Argentina, porém, apresenta certos desafios. A inflação é alta. Segundo o governo, ela supera 10%, mas economistas estimam que a taxa esteja mais próxima de 25%. Cecilia Diaz Chuit, que fundou o Cavas com seu marido, Martín Rigal, decidiu expandir o negócio no ano passado, a fim de aumentar a renda e ajudar a compensar a alta dos custos.

"Não podemos aumentar nossas tarifas", afirmou Diaz Chuit. A diária dos quartos no Cavas é de cerca de US$ 700 na alta temporada. "Então criamos diversos produtos no Cavas para contornar a inflação."

Evans, 48, percebeu o potencial de Mendoza há uma década. Consultor político, ele foi passar férias na Argentina para descansar, relaxar e tomar vinhos. E acabou se radicando por lá.

Evans e um amigo resolveram abrir um negócio de venda de vinhedos. À medida que o negócio cresceu, disse ele, um resort pareceu uma extensão natural de suas atividades.

Em 2013, ele angariou quase US$ 8 milhões com investidores.

No Vines, Evans diz estar tentando dar uma personalidade própria ao lugar. Uma pequena estrada de terra serpenteia entre os vinhedos. As paredes são feitas de pedras extraídas na propriedade. Os hóspedes contam com um "gaucho" pessoal -versão modernizada do tradicional vaqueiro argentino- que os leva para conhecer vinícolas, passear a cavalo e esquiar nas montanhas.

Enquanto trabalhadores davam os toques finais no resort no final do ano passado, Evans apontou o lugar onde quer reformar uma antiga "ramada", pavilhão ao ar livre que pode ser usado para churrascos. Em breve será construída uma academia elevada, na qual quem correr nas esteiras ergométricas terá a sensação de estar flutuando acima dos vinhedos.

"Tudo tem a ver com a vinda a Mendoza", disse Evans. "Eu vim para cá de férias, me apaixonei pelo lugar e fiquei. Então, meu objetivo é transmitir essa paixão para as pessoas."