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New York Times

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Intermediário faz trabalho da polícia em Honduras

Por NICHOLAS PHILLIPS

TEGUCIGALPA, Honduras - Para Andy Díaz, o único jeito de encontrar a testemunha de um homicídio foi pegando uma Bíblia. Díaz, detetive particular, se disfarçou de pastor e passou um mês batendo de porta em porta numa favela, guiando-se apenas por um boato e uma descrição.

Nas ruas sulcadas do morro de Nueva Suyapa, uma favela nos arredores da capital hondurenha, os moradores desconfiam da polícia e têm medo dos bandidos.

Quando finalmente localizou o homem, Díaz o seguiu, e só foi conversar com ele quando ambos estavam longe do bairro. O homem jurava que não havia visto nada. Mas Díaz persistiu. Mostrou a ele as fotos da cena do crime, comeu com ele e lhe emprestou dinheiro.

Foi necessário um mês de persuasão até que o homem, testemunha da morte de Joselin Palma, aceitasse depor anonimamente.

A morte dela poderia ter permanecido sem solução, como quase todos os homicídios em Honduras, onde traficantes e gangues costumam agir sem serem incomodados por um sistema de justiça penal corrupto e sobrecarregado. Mas esse caso foi diferente.

Díaz e o advogado Luis Ortíz identificaram três suspeitos acusados de matarem Palma a facadas na véspera do seu 18˚ aniversário. Mais de um ano após a morte, Santos Mateo Migueles confessou o crime e foi sentenciado a 20 anos de prisão.

Um segundo suspeito, um adolescente, confessou o crime em 2013; o terceiro está preso à espera de julgamento.

Os investigadores participam de uma experiência em Nueva Suyapa que mostra como o ciclo de violência e impunidade pode ser rompido quando intermediários fazem o trabalho que policiais e promotores não conseguem ou não querem fazer, localizando testemunhas, conquistando sua confiança e convencendo-as a cooperarem com as autoridades.

"Costumamos culpar a polícia", disse Kurt Ver Beek, da ONG Associação por uma Sociedade Mais Justa (ASMJ), que comanda o projeto em Nueva Suyapa.

"Mas o que é pouco notado em tudo isso é que, nesses casos, as testemunhas também precisam ter coragem. O medo que elas têm é um problema tão grande quanto a corrupção no sistema. E ambos criam um círculo vicioso."

O combate ao crime de baixo para cima é um desafio direto para as políticas do novo presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, que assumiu em janeiro.

A promessa de Hernández de "colocar um soldado em cada quarteirão" foi bem recebida pelos hondurenhos fartos da violência, mas deixa de lado as tarefas bem mais complexas de treinar e verificar os antecedentes de uma força policial que seja capaz de investigar e prevenir os crimes.

A taxa de homicídios em Honduras duplicou desde 2005, dando ao país de 8 milhões de habitantes aquele que é considerado o mais elevado índice de assassinatos em tempos de paz no mundo todo.

Para Ingrid Figueroa, da unidade de combate à violência contra a mulher em Tegucigalpa, não bastam apenas recursos para resolver o problema principal.

"As testemunhas não querem depor porque, mais do que qualquer coisa, elas têm medo de que a mesma coisa lhes aconteça".

Ortíz, advogado da ASMJ, sabia que esse seria o problema no caso de Palma. Marisol Palma, 25, soube da morte da irmã por um parente que reconheceu no jornal a camisa e a tatuagem de Joselin.

"Fiquei destruída", disse Palma, cujo ódio cresceu quando soube que algumas pessoas ouviram os gritos de socorro da irmã dela, mas ficaram com medo de ajudar.


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