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New York Times

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Chineses faturam com shows na webcam

Por DAVID BARBOZA

ZIGONG, CHINA - Maquiada e usando peruca loira, a jovem chinesa cantou karaokê em seu quarto numa noite de domingo.

Um microfone e três webcams presas a um monitor de mesa transmitiram a performance ao vivo pela internet para milhares de fãs que a conheciam apenas por seu nome artístico, Poison.

A jovem tem 26 anos e divide um apartamento modesto com seus pais. Mas é uma das maiores atrações de uma atividade nova e crescente na China: o entretenimento ao vivo e interativo on-line.

Empresas de mídia e tecnologia de todo o mundo procuram há anos tornar rentáveis as transmissões ao vivo via internet.

A China parece ter encontrado a solução. Milhões de pessoas entram na rede todas as noites para assistir a shows de karaokê, esquetes e talk shows.

Os programas geralmente são produções de orçamento exíguo, feitas por artistas aspirantes que trabalham em seus próprios apartamentos minúsculos.

Os espectadores gastam altas quantias online para comprar créditos com os quais dar aos artistas presentes virtuais de rosas, bombons e bolsas Chanel. Os artistas recebem uma porcentagem da receita.

Os sites misturam feeds de vídeo com comentários em templo real do público. No canto superior esquerdo da tela vê-se a contagem em tempo real de quantos espectadores estão na "sala de concerto" virtual.

Carros virtuais, que representam os VIPs que gastam valores altos, entram e saem da sala virtual em alta velocidade.

"Gastei mais de US$ 15 mil (R$ 33,6 mil) por ano nos últimos dois anos", disse o arquiteto Mi Tian, 29, da Província de Shandong.

"Já dei presentes virtuais a praticamente todos os artistas a cujos shows assisti." O site líder do setor é o YY.com, que tem 92 milhões de usuários mensais ativos e mais de 1 milhão de canais.

David Li, 40, o co-fundador e executivo-chefe do site, diz que o entretenimento ao vivo na internet está transformando um setor que foi fortemente prejudicado pelos casos de infração dos direitos autorais.

"Agora encontramos uma maneira totalmente nova de rejuvenescer o setor da música", disse Li. "Isto vai ajudar os artistas a ganhar dinheiro."

Os espectadores tendem a ser homens solteiros residentes em cidades pequenas, com poucas opções de entretenimento.

Muitos têm dinheiro suficiente para pagar US$ 1.100 (R$ 2.464) pelo privilégio VIP de dirigir um Lamborghini Roadster Aventador LP 700-4 ir e voltar das salas de concerto virtuais durante as apresentações.

"As pessoas não entendem por que os chineses gastam tanto dinheiro desta maneira, mas é em parte uma coisa cultural", comentou Yan Liu, executivo-chefe da 6.cn, uma rival da YY.

"Mesmo nos tempos da Ópera de Pequim, os artistas eram pagos com presentes." As artistas mais populares são "hostesses", muitas das quais praticam a malícia sexual. "O que é atrai vocês homens em mim? São minhas coxas ou é outra coisa?", perguntou uma hostess a seus espectadores.

Eles responderam em mensagens de texto ou voz com comentários como: "Imagina como seria se ela tirasse o vestido" (mas, embora muitas vezes deixem muitas partes do corpo à mostra, as artistas nunca tiram a roupa por completo).

Algumas das artistas chegam a ganhar US$ 90 mil (R$ 201 mil) por ano, quase 30 vezes o salário anual médio dos chineses.

Sentada em sua cama num edifício residencial decadente de Zigong, Poison com frequência se apresenta ao vivo para mais de 10 mil espectadores por noite -um show no aniversário dela chegou a atrair 36 mil internautas chineses.

Ex-dançarina e auxiliar de escritório, ela começou a cantar karaokê na 6.cn alguns anos atrás, até ser recrutada pela YY.

"Boa noite, todo mundo", ela disse ao entrar no ar numa noite recente. "Vocês estavam com saudades de mim?"

Com reportagem de Stephanie Yifan Yang


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