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New York Times

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Crimeia dá mais combustível à Rússia

Por WILLIAM J. BROAD

Quando a Rússia tomou a Crimeia, em março, também adquiriu uma zona marítima com superfície mais de três vezes maior que a área terrestre e com o direito a recursos submarinos que potencialmente valem trilhões de dólares.

A iniciativa também estende as fronteiras marítimas da Rússia, dando a ela o domínio de vastas reservas de óleo e gás e desferindo um golpe devastador às esperanças de independência energética da vizinha Ucrânia.

A Rússia o fez sob os termos de um acordo internacional que confere aos países a soberania sobre áreas distantes até 370 quilômetros de sua costa.

Os russos não tinham conseguido acesso aos recursos energéticos da área num pacto que tinha fechado com a Ucrânia dois anos antes.

"Isso é importantíssimo", disse Carol R. Saivetz, especialista em Eurásia no Programa de Estudos de Segurança do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

"Priva a Ucrânia da possibilidade de desenvolver os recursos e os entrega à Rússia. Torna a Ucrânia mais vulnerável à pressão russa."

Em Moscou, um porta-voz do presidente Vladimir Putin disse que não existe ligação entre a anexação e os recursos energéticos. "Diante de todo o potencial que a Rússia possui, não há interesse nisso", disse Dmitri Peskov.

A Exxon Mobil, Royal Dutch Shell e outras grandes empresas petrolíferas já estudaram o mar Negro, e alguns analistas de petróleo dizem que seu potencial é comparável ao do mar do Norte.

O geólogo marinho William B.F. Ryan, do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade Columbia, em Nova York, disse que a área que a Rússia passa a controlar lhe garante potencialmente as melhores reservas de petróleo do mar Negro.

Analistas dizem que as sanções econômicas podem adiar a exploração russa de suas áreas anexadas dos mares Negro e de Azov, por reduzir seu acesso a financiamento e tecnologia ocidental.

Mas disseram que a Rússia já tinha assumido o controle da subsidiária na Crimeia da empresa nacional de gás da Ucrânia, o que lhe garante equipamentos de exploração no mar Negro.

"A Rússia está disposta a agir agressivamente", disse Vladimir Socor, membro sênior da Fundação Jamestown, grupo de pesquisas de Washington que acompanha os assuntos eurasianos. "Ela já tomou duas perfuratrizes."

Não é de hoje que países com saída para o mar Negro enxergam seu leito como fonte de energia, principalmente devido a sucessos na exploração de águas rasas.

As perspectivas de resultados enormes subiram muito dois anos atrás, quando um navio que fazia perfurações na costa da Romênia localizou um grande campo de gás em águas de mais de meio quilômetro de profundidade.

Em abril de 2012, Putin, que na época era o primeiro-ministro russo, assinou um acordo com a gigante energética italiana Eni para explorar a zona econômica russa no nordeste do mar Negro.

Ryan estimou a área da zona, antes da anexação da Crimeia, em 67 mil quilômetros quadrados, mais ou menos o equivalente à superfície da Lituânia.

Em agosto, a Ucrânia anunciou um acordo com um grupo liderado pela Exxon para extrair óleo e gás das águas do mar Negro.

A equipe da Exxon tinha oferecido mais que a empresa russa Lukoil. O escritório estatal de geologia ucraniano disse que o desenvolvimento do campo custaria até US$ 12 bilhões (R$ 26,5 bilhões).

Ryan estima que a zona marítima em volta da Crimeia tenha acrescentado 93 mil quilômetros quadrados à área do mar controlada pela Rússia. O acréscimo equivale a mais de três vezes a superfície terrestre da Crimeia.

A zona da Romênia no mar Negro tinha sido adjacente à da Ucrânia. "Romênia e Rússia serão vizinhas", observou em 24 de março o jornal "Romania Libera", de Bucareste. A manchete dizia que a fronteira marítima poderia tornar-se "uma potencial fonte de conflito".

Mas o jornal romeno citou analistas como tendo dito que outros países que têm saída para o mar Negro -Geórgia, Turquia, Bulgária e Romênia-reconheceriam a anexação "para evitar conflitos".

Analistas dizem que a ação da Rússia também poderá alterar a rota que será seguida pelo gasoduto South Stream, poupando dinheiro, tempo e dificuldades de engenharia a Moscou. O gasoduto, ainda a ser construído, deve levar gás russo para a Europa. Originalmente, a Rússia traçou uma rota tortuosa que passava por águas da Turquia.

Agora ela poderá fazer com que o gasoduto siga um trajeto mais direto, passando por seu território recém-adquirido no mar Negro.

Empresas petrolíferas dizem que seus acordos com a Ucrânia estão no limbo. "Não as vejo fechando acordos novos neste momento", disse Saivetz, do MIT.


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