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New York Times

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Esportes reencenam cotidiano basco

Por DAVE SEMINARA

Em Leitza, aldeia basca em um vale verde e rústico ao sul de San Sebastián, na Espanha, Iñaki Perurena é mestre do "harrijasotzaile", ou levantamento de pedras. Trata-se de um esporte que faz parte da cultura regional há cem anos. "Os esportes bascos vêm do trabalho que as pessoas faziam nas fazendas", disse.

Os peculiares esportes da região incluem partir lenha, erguer fardos de feno, arremessar fardos de feno, carregar vasilhas de bater manteiga, cavar buracos, entre outras atividades. "Os esportes rurais bascos são os equivalentes dos rodeios nos EUA", diz David Lachiondo, professor-adjunto de estudos bascos na Universidade Estadual de Boise, em Idaho. "Esses esportes são parte integral da identidade basca".

Existem outros jogos na região, como a pelota basca, esporte de quadra com mais de uma dúzia de variações. "Em cada cidade basca, você encontra pelo menos três coisas", disse um homem que estava assistindo a um torneio juvenil da modalidade. "Uma igreja, um bar e uma quadra de pelota. É o nosso jogo mais importante".

Mas, ao responder à pergunta se o seu esporte continuava vivo e bem, Perurena se limitou a dizer que tudo faria sentido quando chegassemos a Peru Harri -fazenda onde ele e os filhos construíram um museu e um parque de esculturas dedicados ao levantamento de pedras.

O relevo íngreme em torno de Peru Harri é dominado por uma estátua de oito metros de altura de um levantador de pedras, com uma imensa rocha repousada sobre os ombros.

Uma das peças do museu propõe a teoria de que os homens bascos, muitos dos quais dotados de peitos largos e corpos robustos como o de Perurena, são descendentes diretos dos homens de Cro-Magnon, que viveram há 40 mil anos.

Perurena é açougueiro, astro de uma novela na TV basca e, agora, guia de turismo no museu. Mas é mais conhecido por aqui em função de seus feitos no levantamento de pedras. Há vídeos que o mostram erguendo pedras de mais de 300 quilos; outros que o mostram erguendo uma pedra de 270 quilos com uma mão só; e outros ainda em que ele girou uma pedra de 210 quilos em torno de seu pescoço 36 vezes em um minuto. Para celebrar o episódio 1.700 da novela "Goenkale", que ele estrela, Perurena conta ter levantado uma pedra de 96 quilos 1.700 vezes em nove horas. "Mas eu aguentaria mais", diz.

Perurena explica que esportes como o levantamento de pedras, as corridas de barcos baleeiros, luta ovina e outros se desenvolveram e ganharam popularidade porque envolviam atividades cotidianas de agricultores e pescadores.

O levantamento de pedras se tornou esporte nos últimos cem anos porque as fazendas bascas tendem a ser rochosas e os agricultores precisam remover grandes pedras para que possam cultivar a terra.

Mesmo durante os dias sombrios da ditadura de Franco, quando falar basco era perigoso, os esportes rurais floresciam como parte importante da cultura regional. O montanhismo se tornou um esporte popular porque os bascos se sentiam livres para falar seu idioma nas escaladas que faziam em áreas rurais na companhia de amigos de confiança, longe do risco de denúncias às autoridades.

Perurena disse que ainda treina todos os dias, mas que já não compete, por causa da artrite e outros problemas de saúde. Seu filho mais velho, Inaxio, 29, ainda compete em alto nível, mas jamais conseguiu quebrar os recordes do pai.

Ao perguntarmos se o esporte continuaria a existir dentro de cem anos, Saioa Martija Gónzales, que estava servindo de intérprete, não quis traduzir a questão. "Não acho que o esporte continuará a existir", disse ela. "Os jovens já não gostam dele".

Lachiondo disse a mesma coisa, mas, quando Martija Gónzales finalmente transmitiu a pergunta a Perurena, a resposta dele foi inequívoca.

"O povo basco sobrevive e a cultura basca sobrevive. O mesmo se aplicará a esse esporte".


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