Folha de S.Paulo

Presos ou livres, camundongos correm em rodinhas de exercícios

Por JAMES GORMAN

Se uma rodinha de exercício for colocada em uma floresta, camundongos irão correr nela?

De vez em quando, a ciência faz uma pergunta simples e recebe uma resposta direta. Nesse caso, sim, eles correrão. E não apenas camundongos, mas também ratos, musaranhos, sapos e lesmas.

Os sapos não correram exatamente, e as lesmas provavelmente foram parar na rodinha por acidente, mas os camundongos claramente adoraram o passatempo. Isso, afirmam os cientistas, significa que correr em uma rodinha não é simplesmente um comportamento neurótico exibido apenas por camundongos aprisionados.

Para chegar a essa conclusão, dois pesquisadores da Holanda colocaram rodinhas de exercícios em um quintal e em uma área de dunas e monitoraram as rodas com detectores de movimento e com câmeras automáticas.

Eles foram inspirados por perguntas dos comitês de bem-estar animal de universidades, que queriam saber se os ratos realmente se divertiam com as rodinhas, uma atividade usada em muitos estudos, ou se, pelo contrário, eles agiam como ursos caminhando em uma jaula, estressados e neuróticos. Eles utilizariam a rodinha se estivessem em liberdade?

Agora, não restam dúvidas.

"Quando vi o primeiro camundongo selvagem usando a rodinha, fiquei muito feliz", declarou Johanna H. Meijer, que estuda os ritmos biológicos dos camundongos no Centro de Medicina da Universidade de Leiden, na Holanda. "Ri com os resultados. Ao mesmo tempo, levo isso muito a sério. É engraçado e é importante".

Para o estudo, as rodinhas foram cercadas de forma que os pequenos animais pudessem ter livre acesso a elas, mas que os animais maiores não pudessem derrubá-las.

A dra. Meijer instalou sensores de movimento e câmeras de vídeo automáticas. Vários anos e 12 mil segmentos de vídeo depois, ela e Yuri Robbers, também pesquisador de Leiden, divulgaram os resultados. Eles foram publicados na revista "Proceedings of the Royal Society".

Gene D. Block, presidente da Universidade da Califórnia em Los Angeles, não estava envolvido no estudo, mas conhece a dra. Meijer e havia visto a instalação da rodinha em seu jardim. Ele disse que o estudo deixou claro que correr nas rodinhas é "algum tipo de comportamento de recompensa" e "provavelmente não é provocado pelo estresse ou ansiedade".

Marc Bekoff, professor de biologia evolutiva na Universidade do Colorado e ativista do movimento de bem-estar dos animais, disse em um e-mail que achou que o estudo de fato comprovou que correr nas rodinhas poderia ser uma "atividade voluntária", mas que os ratinhos de laboratório poderiam praticar mais desse exercício devido ao estresse do confinamento.

Quanto à explicação do porquê os camundongos correm na roda, dra. Meijer disse que ela achou que "existe uma motivação intrínseca aos animais, ou devo dizer organismos, para serem ativos".

Huda Akil, codiretora do Instituto de Neurociência Molecular e Comportamental da Universidade de Michigan, disse que, em humanos, correr ativa o sistema de recompensa no cérebro.

Porém, ela salientou que existem diferenças inatas no temperamento de todos os tipos de animais, inclusive nos humanos. Ratos que não gostam de correr podem ser criados. E muitas pessoas fazem tudo o que podem para evitar qualquer tipo de exercício. Tudo indica que o mesmo vale para os camundongos selvagens.