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New York Times

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Cobiça, não ideais, motiva talebans

Rebeldes exploram tráfico de ópio e mineração ilegal

Por MATTHEW ROSENBERG

CABUL, Afeganistão - Apesar de o Ocidente se esforçar há anos para impedir que recursos financeiros cheguem ao Taleban, os militantes estão mais ricos do que nunca. São tantos os ganhos com o tráfico de ópio, a mineração ilegal, a extorsão e outros empreendimentos que o próprio dinheiro parece ser a razão que leva muitos insurgentes a continuar lutando, segundo autoridades.

Acredita-se que o Taleban tenha tido receita recorde no ano passado com a enorme safra de ópio no Afeganistão. A colheita deste ano está prevista para ser ainda melhor.

Entre as autoridades afegãs e ocidentais, há receios crescentes de que a saúde financeira do Taleban possa estender a insurgência e complicar os esforços para alcançar um acordo de paz, no momento em que as tropas de combate lideradas pelos EUA deixam o Afeganistão.

O sucesso financeiro do Taleban se contrapõe às dificuldades que os insurgentes enfrentaram no campo de batalha no último ano. Em boa parte do país, o Taleban esteve em situação de impasse com as forças afegãs, conseguindo lançar ataques, mas não manter o controle de território. Depois de passar meses ameaçando obstruir a eleição presidencial afegã, os afegãos compareceram em número recorde para votar em abril. O segundo turno aconteceu em 14 de junho e, mais uma vez, o Taleban não conseguiu atrapalhar o pleito. Os resultados finais devem ser anunciados em julho.

Mas o Taleban continua a ser um ator mortal no Afeganistão. Um relatório divulgado por um comitê das Nações Unidas encarregado de monitorar as sanções aos militantes disse que a receita deles vem crescendo, apesar de seus parcos esforços para combater as forças afegãs e estrangeiras e das divisões em suas fileiras.

Embora os insurgentes tenham controle de quatro dos quase 370 distritos do Afeganistão, contra dez alguns anos atrás, o sucesso financeiro deles lhes permite manter uma ameaça importante em metade do país.

Algumas autoridades afegãs e ocidentais disseram que muitas facções do Taleban hoje guardam mais semelhanças com grupos do crime organizado do que com um grupo militante islâmico.

"Quanto mais analisamos a insurgência, principalmente os membros que estão fazendo contrabando de madeira, pedras preciosas e ópio, mais vemos indivíduos cuja motivação é a cobiça, não algum sonho ideológico de um Estado islâmico puro", disse o funcionário, que pediu anonimato.

Embora muitas autoridades afegãs e ocidentais concordem que o Taleban parece estar dividido por vendetas internas e enfraquecido (ou não disposto a partir para a ofensiva em muitas partes do país), alguns desaconselham uma ênfase excessiva sobre fatores econômicos.

Um funcionário da coalizão militar internacional no Afeganistão disse que parece haver problemas de moral baixa entre combatentes, que estão começando a entender que uma vitória militar é improvável. Algumas poucas facções do Taleban estão tendo problemas de dinheiro, disse o funcionário.

O relatório da ONU informou que alguns líderes do Taleban foram mortos no ano passado em decorrência de brigas internas suscitadas pela mudança na situação econômica da insurgência.

Até recentemente, o Taleban ganhava valores importantes extorquindo empresas que forneciam bens e serviços à coalizão liderada pelos EUA ou, em alguns casos, financiando essas empresas. Mas, com a coalizão em processo de retirada do país, o número de contratos vem diminuindo, e as mortes "podem refletir a disputa crescente por recursos minguantes", diz o relatório.

Mesmo assim, algumas facções do Taleban estariam correndo o risco de viver uma "maldição de recursos", pela qual ganham tanto com o fato de combater que não têm motivação para parar.

Enquanto algumas facções do Taleban são a favor da ideia de negociar a paz, "muitas enriqueceram desmesuradamente", disse o funcionário ocidental, e é pouco provável que respeitem acordos fechado por seus líderes.

As estimativas do custo anual da insurgência variam entre US$ 200 milhões e US$ 400 milhões. Mas é impossível estimar sua receita anual, porque não há como rastrear a receita de investimentos em negócios legítimos no Afeganistão, no Paquistão e em países do Golfo Pérsico, como os Emirados Árabes Unidos.

E o Taleban não precisa estar no controle de uma região para ganhar dinheiro nela. Tropas americanas e britânicas lutaram para derrotar o Taleban antes de as forças afegãs assumirem o controle da província de Helmand. Mas o Taleban está ganhando muito dinheiro com o ópio em áreas sob controle do governo.

Um funcionário ocidental familiarizado com o relatório da ONU, mas não autorizado a falar publicamente, comentou que um grupo militante movido pela cobiça, não pela ideologia, é "algo muito perigoso". "A única vitória sustentável passa a ser promover a falência do inimigo."


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