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Imigrantes reinventam Miami

Sul-americanos injetam energia nos negócios e na vida cultural da cidade

Imigrantes ricos do sul minam a influência cubana

Por LIZETTE ALVAREZ

MIAMI - Durante a recente Copa do Mundo, colombianos vestidos de amarelo lotavam a casa noturna Kukaramakara, no centro da cidade, com cervejas Aguila nas mãos, gritando "Colômbia, Colômbia!". Do lado de fora, brasileiros faziam carreatas ouvindo samba a todo volume. Argentinos, alguns com camisas listradas azuis e brancas, se aglomeravam em churrascarias e casas de empanadas da região. Por toda Miami, as crianças iam à missa de domingo com suas chamativas camisetas em homenagem aos heróis latino-americanos do futebol.

Mais do que um comentário sobre futebol, esse era um "tableau vivant" da nova Miami, que na última década deixou de ser um lugar definido pelos cubano-americanos para se transformar em uma cidade cada vez mais turbinada por uma leva de sul-americanos com altos níveis educacional e de renda. Seu crescente número e influência, tanto como imigrantes quanto como turistas, transformaram o centro de Miami -antes mergulhado na recessão-, enriqueceram sua cultura e ampliaram seu fascínio para empresas do mundo todo.

"É agora indiscutivelmente a capital da América Latina", disse Marcelo Claure, um milionário boliviano que fundou a Brightstar, uma companhia global de distribuição de tecnologia sem fio com sede em Miami. "O 'boom' econômico latino-americano nos últimos dez anos levou à criação de uma enorme classe média em países como Brasil, Peru e Colômbia, e eles veem Miami como um lugar onde gostariam de estar." A transformação é particularmente visível em meio aos guindastes nas construções, ao burburinho das ruas e às boates no centro da cidade. Mas aparece também em outras partes do condado de Miami-Dade, onde cada vez mais imigrantes sul-americanos de alto nível educacional compram imóveis e fincam raízes, desempenhando um papel importante ao revigorar uma região até pouco tempo devastada pela recessão.

A relativa riqueza permitiu a expansão de negócios como empresas de importação e exportação e bancos, e a abertura de restaurantes que servem arepas da Venezuela e coxinhas do Brasil.

Mais moderados do que os tradicionais cubano-americanos, os sul-americanos inclinaram a política local para o centro. As emissoras de rádio já não são direcionadas exclusivamente ao público cubano; veiculam mais notícias sobre a América Latina e menos ataques ao regime castrista. Charlie Crist, que é candidato ao governo do Estado pelo partido Democrata, indicou uma colombiana-americana de Miami, Annette Taddeo-Goldstein, como vice em sua chapa.

Os colombianos, que começaram a chegar a Miami no começo dos anos 1980, são o maior grupo entre os sul-americanos. Agora respondem por quase 5% da população de Miami-Dade. Estão acompanhados por argentinos, peruanos e um crescente número de venezuelanos. Os brasileiros, relativamente recém-chegados à miscelânea sul-americana de Miami, agora também são uma presença notável. A população venezuelana saltou 117% em 10 anos, uma estatística que ainda não reflete a onda de recém-chegados. Mais da metade dos residentes de Miami é de origem estrangeira.

O fluxo está expandido as fronteiras de bairros de imigrantes em lugares como West Kendall, Hammocks e Doral. O crescimento está ultrapassando os limites do condado e chegando a Broward, onde uma cidade, Weston, recebeu tantos venezuelanos que passou a ser chamada em tom brincalhão de Westonzuela.

Jorge Pérez, o rico empresário do setor imobiliário que deu nome ao novo Pérez Art Museum, em Miami, disse que a nova onda sul-americana está transformando a cidade em um destino para o ano todo e atraindo mais empreendedores e companhias internacionais. "Os sul-americanos mudaram as regras do jogo -foram eles que permitiram a recuperação do mercado imobiliário", disse Pérez.

Muitos vieram para fugir de uma crise política, como fizeram os venezuelanos após a eleição de Hugo Chávez em 1998 e posteriormente de seu protegido, Nicolás Maduro, ou para escapar de turbulências econômicas, como os argentinos e colombianos.

Mas a última onda de sul-americanos traz outra mudança. Ela inclui muitos investidores em busca de empresas e imóveis. Para eles, Miami é um lugar cada vez mais atraente. O espanhol, que há muito tempo é o idioma comum em grande parte de Miami, agora domina segmentos mais amplos.

"Você pode vir aqui como empresário, profissional liberal, e fazer cinco telefonemas, todos em espanhol, para montar a infraestrutura do seu negócio", disse o professor de sociologia Guillermo Grenier, da Universidade Internacional da Flórida.

O efeito no mercado imobiliário é especialmente visível na região de Brickell, o centro bancário internacional de Miami, e nas áreas até então sujas do centro. A paixão dos sul-americanos pela vida urbana levou à explosão de novas torres de condomínios de luxo, e outras estão a caminho.

O surto imobiliário é semelhante ao que ocorreu antes da crise de 2008, aumentando o fantasma, na visão de alguns analisas, de uma nova bolha. "Status é ter um apartamento em Miami", disse Juan Zapata, o primeiro colombiano a ocupar o cargo de comissário do condado de Miami-Dade e, antes disso, no Legislativo estadual.

Os subúrbios residenciais também continuam crescendo à medida que mais sul-americanos se mudam para áreas onde seus compatriotas já se concentram. Doral, uma cidade de classe média próxima ao aeroporto, é agora uma vitrine de grupos sul-americanos, a maioria venezuelanos. Mas os sul-americanos estão muito aquém dos cubano-americanos em poder político. Muitos não votam nem disputam cargos, uma realidade que Zapata disse que precisa mudar.

Essa transformação, diz, será o novo capítulo de Miami.


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