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'Invasor' do organismo esconde segredos vitais

Por DENISE GRADY

SAN FRANCISCO - Numa manhã recente, minutos depois de uma menina nascer no Centro Médico da UCSF, sua placenta -órgão que é uma bolha polpuda, geralmente descartado- foi levada como um tesouro para o laboratório de Susan Fisher, professora de obstetrícia, ginecologia e ciências reprodutivas.

Lá, cientistas começaram a extrair suas células estranhamente poderosas, que comandam o corpo de uma mulher por nove meses para manter o feto vivo.

Um disco de tecido anexado ao revestimento uterino de um lado e ao cordão umbilical de outro, a placenta cresce a partir das células do embrião, não da mãe. Proporciona oxigênio, nutrição e eliminação de resíduos, fazendo o trabalho dos pulmões, fígado, rins e outros órgãos até que os do feto se desenvolvam. Depois que o bebê nasce, a placenta é expelida, geralmente pesando meio quilo, ou um sexto do peso da criança.

Fisher e outros pesquisadores há décadas estudam a placenta, mas a médica disse que "em comparação ao que deveríamos saber, não sabemos quase nada. É um tema em que acredito que possamos obter verdadeiros avanços médicos".

Quando há algo de errado com a placenta, podem surgir problemas graves como casos de aborto, morte fetal e pré-eclâmpsia, uma anomalia que eleva a pressão arterial da mãe, podendo matar a ela e ao feto.

Os cientistas agora suspeitam que a placenta possa ajudar a moldar o sistema imunológico do feto e influenciar sua saúde no decorrer da vida. O Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano dos EUA planeja lançar o Projeto Placenta Humana para descobrir meios de detectar anormalidades no órgão mais precocemente.

A placenta começa a se formar no revestimento do útero assim que o óvulo fertilizado aterrissa, incrustando-se profundamente no tecido da mãe e sugando tão agressivamente as suas artérias que os pesquisadores a comparam ao câncer.

"Um parasita na mãe", é como a placenta é descrita no livro "Life's Vital Link" (o elo vital da vida), de Y. W. Loke, imunologista especializado em reprodução.

A placenta invade de 80 a 100 vasos uterinos chamados de artérias espirais e atinge 50 quilômetros de vasos capilares. As células da placenta formam minúsculas projeções em formato de dedo, chamadas de vilosidades, que contêm vasos capilares fetais e entram em contato com o sangue materno para buscar oxigênio e nutrientes e eliminar resíduos. Na linha de frente da invasão estão as células chamadas trofoblastos.

"Os trofoblastos são muito invasivos desde o princípio", disse Fisher. "Eles simplesmente explodem o revestimento uterino para conseguir se fixar lá."

Michael McMaster, professor de biologia celular e de tecidos da Universidade da Califórnia, em San Francisco, disse que "é provavelmente verdade que, nesse estágio inicial, a maior parte das disfunções dos trofoblastos pode resultar em perda da gravidez ou doença futura".

O laboratório de Fisher descobriu que, à medida que os trofoblastos avançam, podem alterar algumas proteínas em suas superfícies, chamadas de moléculas de adesão, para se tornarem mais móveis. Pesquisadores descobriram depois que as células cancerígenas fazem a mesma coisa ao se espalharem a partir de um tumor para invadir partes do corpo.

Os trofoblastos também imitam as células dos vasos sanguíneos invadidas. As artérias espirais que alimentam o revestimento uterino pavimentam-se com os trofoblastos, e não com as células da própria mulher.

Essa "remodelação" dilata as artérias consideravelmente, para enviar sangue à placenta e nutrir as vilosidades.

Se a invasão e a remodelação não ocorrem, a placenta não pode adquirir sangue suficiente para desenvolver-se normalmente, com consequências desastrosas, como a pré-eclâmpsia. A maioria das mulheres com a doença possui placentas muito pequenas, com coágulos e oferta de sangue pouco desenvolvida.

"A placenta dá a resposta para muitas mortes fetais", disse a patologista especializada em placenta Drucilla Roberts, do Hospital Geral de Massachusetts.

Em um caso, disse Roberts, o exame da placenta permitiu diagnosticar uma incompatibilidade imunológica entre os pais que havia resultado em múltiplos abortos espontâneos e morte do feto. A mãe foi tratada e conseguiu ter uma criança saudável.

Rebecca Baergen, chefe de patologia obstetrícia e perinatal do Hospital Presbiteriano de Nova York/Centro Médico Weill Cornell, descreveu um caso no qual um recém-nascido era extremamente pequeno, tinha membros atrofiados e não sobreviveu. Os médicos suspeitaram de um distúrbio do crescimento, mas as amostras dos ossos não revelaram nada.

A placenta foi enviada para Baergen, que descobriu muitos problemas com a oferta de sangue, e exames com a mãe revelaram uma doença sanguínea hereditária. Ela foi tratada e deu à luz a um bebê saudável.


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