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New York Times

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Vigiando a história do alto

Mapeando sítios antigos para afastar especuladores

Por WILLIAM NEUMAN e RALPH BLUMENTHAL

CHEPÉN, Peru - Um pequeno helicóptero controlado à distância passeava sobre ruínas num pico de montanha em Chepén, fazendo centenas de fotos. Mais abaixo, muros de pedra erguidos há mais de mil anos pela civilização Moche davam lugar a paredes de adobe erguidas recentemente por especuladores imobiliários, segundo autoridades. "Este sítio está ameaçado por todos os lados", disse Luis Jaime Castillo Butters, vice-ministro do Patrimônio Cultural peruano, enquanto pilotava o drone.

Arqueólogos de todo o mundo, que sempre usaram as ferramentas clássicas de sua profissão, como espátulas e prumos, estão recorrendo à tecnologia moderna dos drones (aeronaves não tripuladas) para defender e explorar sítios em risco. E é possível que a mudança esteja ocorrendo mais rapidamente no Peru, onde Castillo criou uma força aérea de drones para mapear e proteger os tesouros antigos de seu país.

Para Castillo, arqueólogo respeitado e um de meia dúzia de especialistas que vão apresentar o uso de drones numa conferência em San Francisco em 2015, os drones assinalam "um antes e um depois na arqueologia".

No Oriente Médio, pesquisadores usaram os drones para proteger sítios contra saqueadores.

"A vigilância aérea do sítio permite a identificação de novos poços de saque e determinar se os poços abertos por saqueadores foram visitados novamente", disse a arqueóloga Morag Kersel, da Universidade DePaul, que faz parte de uma equipe que usa drones para essa finalidade na Jordânia e em Israel.

Com sua concentração de riquezas arqueológicas, o Peru tornou-se um campo fértil para a utilização da nova tecnologia. O país está se convertendo em centro que atrai pesquisadores, na medida em que arqueólogos que atuam no Oriente Médio e outros lugares têm seu trabalho interrompido por conflitos.

No Peru, porém, eles se deparam com conflitos de outro tipo. Aqui eles lutam para proteger o patrimônio arqueológico nacional contra posseiros e grileiros, que usam de fraudes ou contatos políticos para tomar terras e beneficiar-se dos preços crescentes pagos por elas. Especialistas dizem que centenas de sítios antigos estão em perigo devido a esse avanço da especulação.

Os drones podem resolver o problema de modo ágil e barato, fornecendo uma visão aérea geral de ruínas.

Os mapas são usados para fazer o registro legal dos limites protegidos dos sírios, numa espécie de agrimensura que pode ser utilizada nos tribunais para impedir a construção nos terrenos ou para punir aqueles que danificam ruínas, desrespeitando a proibição de construir.

"Vários arqueólogos estão usando drones em suas pesquisas individuais, mas nenhum outro país os está empregando de modo sistemático para administrar e proteger seus sítios", disse Lawrence Coben, fundador da organização sem fins lucrativos Iniciativa de Preservação Sustentável.

A invasão de terras é motivo de preocupação especial em cidades como Lima ou Cusco, onde os terrenos se valorizam constantemente. Muitos peruanos ficaram chocados no ano passado, quando operários usaram máquinas pesadas para demolir ilegalmente uma pirâmide de 4.000 anos em Lima para abrir espaço para possíveis construções.

Ele começou a fazer experimentos com drones dois anos atrás, comprando um aparelho de US$ 100 (R$ 227) da Sharper Image. Hoje, possui oito drones, todos helicópteros em miniatura que custam entre US$ 1.500 e US$ 20 mil (R$ 3.400 a R$ 45,4 mil), e espera em pouco adquirir outros 20.

Em 2012, enquanto lecionava na Suécia, onde pesquisadores trabalhavam com um poderoso programa de computador criado na Rússia que era capaz de fundir centenas de fotos em uma imagem tridimensional composta, Castillo percebeu que poderia usar suas fotos feitas com drones para produzir imagens tridimensionais incrivelmente detalhadas e claras de templos antigos, fortificações e cemitérios.

Quando, no ano passado, foi nomeado vice-ministro da Cultura responsável pela arqueologia, ele levou sua força aérea nascente com ele, usando os drones nas cidades mas também em locais mais remotos, como este, conhecido como Cerro Chepén, um grande sítio arqueológico na costa norte do Peru, que data de 850 d.C., na fase final da civilização Moche. As imensas muralhas de pedra do local podem não ser tão sofisticadas quanto as de alguns sítios posteriores, como Machu Picchu, mas ainda são impressionantes.

Apontando para uma encosta de montanha ao lado, Castillo disse que no ano passado uma equipe passou dois meses, ao custo de milhares de dólares, para mapear a área com métodos convencionais. Agora, com um drone, ele cobre uma área semelhante em menos de dez minutos. Depois de descarregar as fotos num programa de computador, pode ter o mapa pronto no dia seguinte.

"Quanto mais rápido produzirmos os mapas, mais partes do sítio vamos poder salvar", explicou.

Os drones têm algumas desvantagens, porém. Suas baterias podem durar apenas seis minutos. A poeira que é comum em sítios arqueológicos, especialmente no deserto costeiro do Peru, podem danificar o equipamento.

Em Cerro Chepén, Aldo Watanave, que comanda a equipe de drones de Castillo, não conseguiu fazer um drone maior funcionar quando o aparelho que controla o movimento da câmera apresentou uma falha.

Em muitos momentos Castillo e sua equipe precisam recorrer à criatividade, improvisando soluções para prender as câmeras no lugar. Watanave tinha tentado amarrar o equipamento com barbante, mas então o mecanismo que faz a câmara fazer fotos em intervalos regulares também deixou de funcionar corretamente. Castillo acabou usando um drone menor.

O centro do programa de drones fica no subsolo da sede do Ministério da Cultura, em Lima. Em cubículos apertados, oito homens e mulheres trabalham com os mapas tridimensionais criados a partir das fotos feitas pelos drones, refinando-os e acrescentando informações, incluindo dados sobre os proprietários das terras e sobre escavações arqueológicas.

A tarefa é complexa. O Peru tem estimados 100 mil sítios de importância arqueológica, embora especialistas reconheçam que esse número não passe muito de um palpite.

Desse total, apenas cerca de 2.500 já foram mapeados de alguma maneira e, devido a problemas de verba e pessoal, apenas 200 estão inscritos completamente nos registros públicos.

"Temos uma montanha de trabalho a fazer e um orçamento muito restrito", disse Nohemí Ortiz, diretora do departamento de registro de sítios. "Mas é preciso começar em algum lugar."

Colaboração de William Neuman, Ralph Blumenthal e Andrea Zarate


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