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New York Times

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Viajante celeste promete espetáculo na atmosfera de Marte

Cientistas aguardam ansiosamente rastros de cometa

Por MARC KAUFMAN

No início do ano passado o caçador australiano de cometas Robert H. McNaught viu algo fora de comum desde seu posto no Observatório Siding Spring.

Como membro de uma equipe patrocinada pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, que vasculha os céus em busca de asteroides e cometas potencialmente perigosos, McNaught geralmente se concentra em objetos que orbitam o Sol no mesmo plano que os planetas. Mas, aproximando-se desde abaixo desse plano, estava um cometa que aparentemente se originou na nuvem de Oort, uma região primordial vasta que cerca o sistema solar.

O cometa já tinha passado bastante de Júpiter quando McNaught o avistou, mas ele e outros chamados modeladores de cometas puderam prever sua trajetória: ele parecia estar dirigido diretamente a Marte -e a alguns de seus equipamentos mais preciosos.

As trajetórias de cometas são notoriamente mutáveis, e projeções mais recentes sugerem que o cometa, batizado de Siding Spring, tem pouca probabilidade de chocar-se com o planeta ou causar grande dano às duas sondas da Nasa que estão sobre sua superfície ou, ainda, aos cinco satélites de pesquisa que orbitam o planeta.

Em 19 de outubro, o cometa está previsto para passar a 130 mil quilômetros de distância de Marte -muito mais perto de Marte que qualquer cometa já chegou da Terra na história registrada.

A poeira, o vapor d'água e os gases expelidos por um cometa podem espalhar-se por dezenas de milhares de quilômetros; assim, o que se prevê é que a parte superior da atmosfera marciana receba uma chuva de dejetos do Siding Spring. Ondas de choque podem abalar a atmosfera.

As partículas de poeira podem ser minúsculas, mas, deslocando-se a 200 mil km/h, poderiam penetrar o casco de qualquer satélite.

"Essencialmente, atuariam como balas no espaço", disse Richard Zurek, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa.

Para ele, existe uma possibilidade pequena de o cometa se fragmentar quando se aproximar de Marte. As órbitas dos satélites foram modificadas para que estejam do outro lado do planeta quando chegar a ameaça maior da poeira.

Mas, de modo geral, os receios originais deram lugar a um clima de entusiasmo com as oportunidades científicas.

"Vamos poder acompanhar as reações do planeta à poeira, à água e ao choque", explicou James Green, da Nasa. "Os cometas exercem um papel enorme na transformação de planetas."

O cometa Siding Spring se formou durante os primórdios do sistema solar, de modo que é um cometa de "período longo", com órbita de milhões de anos. Acredita-se que seja o que especialistas em cometas chamam de cometa virgem -um que nunca chegou ao sistema solar interno. Com isso, seu núcleo gelado (a "bola de neve suja" no núcleo de um cometa) nunca se descongelou e foi reformado.

O Siding Spring vai passar perto de Marte um mês apenas após a chegada do orbitador mais recente da Nasa, o Maven, que possui instrumentos criados para estudar a atmosfera marciana e a liberação de vapor d'água e gases para o espaço.

As implicações disso para os conhecimentos científicos sobre Marte são substanciais. A sonda Curiosity ampliou descobertas anteriores de que Marte foi mais quente e muito mais úmido muito tempo atrás. Mas a questão de como e quando o planeta perdeu essas condições potencialmente possibilitadoras de vida ainda continua em grande medida sem resposta.

Como as câmeras que orbitam Marte foram criadas para focalizar o planeta, não se espera que produzam as melhores imagens dos dejetos que vão voar ao seu lado. Esse papel provavelmente será desempenhado pelo Telescópio Espacial Hubble e por observatórios na Terra.

Mas uma câmera em órbita, a HiRise, tem uma chance de captar aquela que é vista como a parte mais importante e interessante do cometa: seu núcleo. Depois de modificar-se pouco ao longo de bilhões de anos, a bola de pó e gelo se aquece ao penetrar no sistema solar interno e emite uma imensa nuvem de material circundante conhecida como coma, seguida pela cauda comprida.

O que interessa especialmente aos cientistas é saber quais compostos orgânicos à base de carbono poderão ser detectados. A missão Stardust, da Nasa, até o cometa Wild 2 coletou amostras em 2006. Em laboratórios, cientistas encontraram na poeira interestelar não apenas compostos orgânicos, mas também quantidades pequenas de aminoácidos evoluídos.

O astrobiólogo Daniel P. Glavin, do Centro Goddard de Voos Espaciais, da Nasa, fez parte da equipe que encontrou os aminoácidos no Wild 2 e agora faz parte da equipe científica do Curiosity.

"Não sabemos como a vida começa, mas sabemos que compostos orgânicos são necessários", ele disse. "E como eles aparecem? Talvez sejam formados na superfície de um planeta como a Terra ou talvez cheguem através de cometas como o Siding Spring."


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