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Começando os trabalhos às oito, numa rave
Por STACEY ANDERSON
Três fantoches reluzentes, no formato de medusas, serpenteavam pela pista de dança, iluminando largos sorrisos e rostos encharcados de suor de pessoas que dançavam alucinadamente.
Retumbantes remixes house de "Everybody Wants to Rule the World", dos Tears for Fears, e "Work It", de Missy Elliott, sacudiam os parapeitos da pista.
Dois DJs socavam o ar, e um pequeno grupo de músicos de sopro apareceu para acompanhar o ritmo eletrônico, sob intensas luzes estroboscópicas.
Cenas ruidosas como essa são habituais em Williamsburg, no Brooklyn, bairro associado à moderna cultura da música eletrônica e a jovens de roupa cintilante. No entanto, nem tudo era familiar nesta rave chamada Daybreaker, no clube Verboten.
Para começar, os 400 participantes usavam roupas esportivas e trajes profissionais passados, em vez de vestidos provocativos e camisetas divertidas.
Alguns tinham o olhar bem alerta, mas muitos outros bocejavam e se agarravam a xícaras de café. Quando os corpos colidiam na confusão da pista, as desculpas muitas vezes terminavam com "Tenha um bom dia".
Esse uso das palavras era importante, assim como a cafeína. Eram 8h da manhã. A festa Daybreaker, que vai das 7h às 9h três vezes por mês, é um dos dois novos eventos matutinos de música eletrônica que atraem o público no Brooklyn e Manhattan.
Apresentado como uma opção de exercício e saudável inversão de cultura dance, os eventos têm outras novidades além do fato de começarem ao alvorecer: neles não há álcool, e sim café e água com infusão de frutas, distribuídos no bar em vez das costumeiras libações noturnas.
O evento, que estreou em dezembro e se desloca de um lugar para outro, escurece os espaços para imitar a experiência de uma rave, de forma bem convincente.
"Aqui é como um cassino; não há nenhuma noção de tempo", disse o analista financeiro Malcolm Ring, 24. Ele acordou às 5h30 para vir à Daybreaker. "Eu normalmente iria correr agora, mas isto é mais agradável."
Os frequentadores pareciam apreciar o ambiente mais sóbrio. "No bar geralmente só tem amendoim industrializado e bebidas fortes", disse a executiva de contas Rachel Wasserman, 28.
"Você faz um pouco de exercício, se sente ótimo fisicamente, e é uma festa incrível para dançar", disse Matthew Brimer, 27, um dos fundadores da festa.
"A cultura dance e da música underground tende a ficar encaixotada nessa ideia de que você precisa de álcool ou drogas para se divertir. O que estamos tentando dizer é que há todo um mundo de experiência criativa e de dança, música e arte."
O Morning Gloryville, outro evento dance matinal, surgiu em Londres, em maio de 2013, e realizou no primeiro semestre seu primeiro evento no Brooklyn. Ali também há DJs de música eletrônica, além de massagens e ioga.
Mas, ao contrário da Daybreaker, com sua atmosfera noturna descolada, o Morning Gloryville acontece em um espaço claro e aberto, com um ar mais extravagante -os funcionários distribuem colares de flores para os frequentadores, que começam a chegar às 6h30.
O Morning Gloryville também rejeita o álcool. "Se você está acostumado a se esconder ou a fugir no álcool e nas drogas, e depois você descobre que pode se divertir genuinamente e fazer conexões significativas sem isso, é realmente fortalecedor", disse Annie Fabricant, 32, coprodutora de festas em Nova York.
"Mas nossa equipe não é ferrenhamente antidrogas ou antiálcool. É apenas uma oportunidade de experimentar a dança de uma maneira diferente."
A produtora de eventos Samantha Moyo, 28, cocriadora da Morning Gloryville no Reino Unido, disse: "Nosso negócio é resgatar o 'flower power'".
A ênfase das festas na sobriedade parece ser também algo idealista e midiático: um evento de dança às 7h com um bar abastecido favoreceria as acusações contra uma subcultura já associada às drogas e ao álcool.
"Não vi ninguém tratar isto como um evento 'after-hours'", disse Brimer. "Nós realmente desencorajamos."
Essa marca de eventos se expandiu para Barcelona, na Espanha, e em breve chegará a Paris, Zurique, Tóquio e várias outras cidades. Já a Daybreaker chegou a San Francisco e Londres e criou uma linha de roupas.
"Não há limite para o que podemos fazer com a marca", disse Radha Agrawal, 35, outra cofundadora da Daybreaker. "Tem havido muito interesse."