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New York Times

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Mexicanos abandonam casas de ação estatal

Por VICTORIA BURNETT

ZUMPANGO, México - A casa de três metros de largura de Lorena Serrano, 39, num conjunto habitacional enorme na periferia desta cidade-dormitório, é cercada de imóveis desocupados.

O bairro tem duas escolas, algumas lojas de conveniência e um centro comunitário. E quase nada além disso.

"Não há empregos, não há cinema, não há bar", disse Serrano, falando do conjunto de 8.000 residências, chamado La Trinidad.

Seu marido leva duas horas por dia para ir ao trabalho na Cidade do México, 60 quilômetros ao sul, e duas horas para voltar, e gasta um quarto do seu salário com esse deslocamento, ela disse. "Estamos no meio de lugar nenhum."

Serrano é uma entre os mais de 5 milhões de mexicanos que nos últimos dez anos compraram casa própria por meio de um programa do governo que abriu financiamentos imobiliários para compradores de baixa renda.

Saudado inicialmente por alguns especialistas como a solução para o déficit habitacional crônico no país, o programa alimentou um frenesi de construção e ajudou a inspirar esforços semelhantes na América Latina e outras regiões, incluindo o Minha Casa, Minha Vida, no Brasil, que visa erguer pelo menos 3 milhões de habitações até este ano.

"Começamos com cidades-dormitório e terminamos com cidades-fantasma", comentou Gabriela Alarcón, diretora de desenvolvimento urbano do Instituto Mexicano de Competitividade, organização de pesquisas com sede na Cidade do México.

Enquanto cidades no mundo em desenvolvimento, cada vez mais urbanizado, têm dificuldades em garantir habitação para trabalhadores de baixa renda, a saga habitacional mexicana ilustra os revezes de se construir conjuntos habitacionais sem levar em devida conta sua localização ou sustentabilidade. "Você resolve um problema, mas cria uma série de outros", falou Alarcón.

Quando governou o Estado do México, entre 2005 e 2011, o presidente Enrique Peña Nieto comandou uma orgia de construção que abrangeu os conjuntos construídos aqui em Zumpango.

Logo depois de chegar ao poder, em dezembro de 2012, ele rejeitou o modelo de crescimento suburbano adotado por dois governos oposicionistas anteriores.

Descrevendo a "expansão descontrolada" de subúrbios sem edifícios altos como "inviável e insustentável", Peña Nieto disse que as verbas governamentais seriam investidas em conjuntos compactos formados por prédios de vários andares.

Embora milhares de unidades habitacionais tenham sido abandonadas, a população de Zumpango mais que dobrou nos últimos 15 anos, disse o prefeito da cidade, Abel N. Domínguez Azuz.

De acordo com o censo de 2010, Zumpango tem 159 mil habitantes, mas Azuz acha que o número real é quase o dobro disso.

Ele disse que construtoras ergueram 36 conjuntos habitacionais, entregando casas antes de elas ou de o governo municipal terem conseguido instalar água, esgoto, luz e iluminação nas ruas. "Trouxeram as pessoas primeiro e a infraestrutura depois. Deveria ter sido o contrário."

Milhares de donos de imóveis voltaram para a capital, deixando suas casas à mercê de invasores e criminosos. Cerca de 14% dos 35 milhões de residências do México estão vazios, e em Zumpango, segundo pesquisa recente, essa proporção sobe para quase 40%.

O urbanista Luis Zamorano disse que para oferecer transporte aos moradores do conjunto para as cidades onde eles trabalham serão necessários investimentos pesados.

Segundo ele, os conjuntos atraíram muitas famílias jovens à procura de casa própria, mas agora estão longe de seus parentes e estão criando seus filhos em áreas com poucos empregos ou escolas. "É uma bomba-relógio".

Domínguez, 33, disse que o governo municipal vai criar um parque industrial e chamou a atenção para a proximidade de Zumpango com o aeroporto internacional da Cidade do México e as principais rotas de tráfego.

No ano passado, o grupo mexicano Transmasivo, que fabrica ônibus, anunciou que vai investir US$ 120 milhões (R$ 282 milhões) na construção de uma unidade de montagem em Zumpango, devendo gerar cerca de 5.000 empregos.

Serrano torce para que as promessas de empregos para a cidade se realizem. Ela acha que sua casa não vale os US$ 20 mil (R$ 47 mil) que pagou por ela; por isso, não tem como desfazer-se dela.

"Você precisa se conformar com o que tem", ela comentou, dizendo ainda que, como sua casa tem paredes finíssimas, o fato de não ter vizinhos tem uma vantagem. "Pelo menos não preciso ficar ouvindo o barulho deles."


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