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New York Times

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Um número muito evitado na França

Por LIZ ALDERMAN

ÉGUILLES, França - O montanhista francês Philippe Plantier estava descendo um rochedo há mais de uma década quando teve um momento de inspiração: ele poderia transformar sua paixão por escaladas em um negócio.

Abriu uma pequena empresa na Provença, no sudeste da França, que atua em estruturas industriais, com montanhistas fazendo pintura e outras tarefas em rapel.

Plantier decididamente não se intimida com alturas, porém se recusa a ultrapassar o número 49. Quando seu quadro de funcionários chegou a esse limite, ele não contratou mais ninguém.

Empregar a 50° pessoa implicaria se enredar em quase 30 regras trabalhistas francesas que levariam a um aumento de cerca de 4% nos custos de sua empresa, a Travaux Grande Hauteur.

Segundo Plantier, isso poderia fazer a diferença entre ganhar e perder dinheiro. Em vez de expandir a empresa, ele montou mais duas com menos de 50 pessoas. Para economistas, as regras para empresas com mais de 50 funcionários são um dos motivos para que a taxa de desemprego na França seja o dobro da registrada na vizinha Alemanha.

Quando ultrapassam o limiar, as companhias são obrigadas a ter um conselho de trabalhadores com sindicalistas, um comitê de saúde e um dissídio coletivo anual.

Com a estagnação da economia, o presidente François Hollande tentou estimular a geração de empregos reduzindo o Código de Trabalho, a fim de facilitar demissões nas empresas e reduções de salários e carga horária em períodos de queda na produção.

Neste verão, ele também propôs banir ou suspender por um tempo as obrigações para quem tem mais de 50 funcionários.

No entanto, como Hollande tem a pior avaliação de todos os tempos, ele corre o risco de entrar em conflito com membros de seu Partido Socialista e com poderosas organizações trabalhistas.

Proponentes do limiar do 50° funcionário afirmam que isso visa proteger os próprios trabalhadores e garantir sua participação na gestão das empresas.

Por sua vez, empregadores dizem que as exigências também prejudicam os negócios. Um estudo feito pela London School of Economics em 2012 mostrou que o custo das regras adicionais era equivalente a cerca de 5% a 10% de aumento salarial. "Isso é um grande obstáculo para o crescimento", concluiu o estudo.

A meia hora de carro ao norte de Éguilles, Tanguy Roelandts, fundador da fábrica de chocolates Puyricard, enfrentou esses desafios quando seu negócio começou a florescer, há dez anos.

Segundo ele, a fábrica era como uma família e as vendas anuais chegavam a cerca de € 10 milhões (R$ 30 milhões).

Mas após ele contratar o 50° funcionário "os resultados pioraram", pois isso onerou em cerca de € 32 mil (R$ 97 mil) os custos operacionais anuais da Puyricard, e Roelandts foi obrigado a dedicar metade de seu tempo para questões administrativas e a burocracia estatal francesa.

O maior problema foi quando Roelandts criou o conselho de trabalhadores. Embora nenhum de seus funcionários fosse sindicalizado, disse Roelandts, sindicatos procuraram os trabalhadores da Puyricard para filiá-los. "Subitamente nos vimos em uma discussão brutal e o tom do diálogo mudou bastante", recorda.

"Na França, o patrão tem a imagem de malfeitor e, se for exitoso, é porque explora os trabalhadores", comentou Plantier.

A ausência de um conselho liderado por um sindicato poderia evitar tensão em uma empresa na qual ele trabalhou estreitamente com os funcionários durante anos. Além disso, diz ele, é difícil administrar empresas separadas, em vez de ter todos os funcionários em uma única folha de pagamento.

"Os empregados pedem para contratar mais funcionários, então eu explico que não é possível", disse Plantier. "Eles aceitam, mas dizem que é vergonhoso."


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