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New York Times

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Museu de Aspen mira o global e despreza o local

Por HOLLAND COTTER

ASPEN, Colorado ­- A tendência dos edifícios butique para museus atingiu há alguns anos seu auge gélido e resplandecente e então se estabilizou, pelo menos nos Estados Unidos. Hoje em dia, geralmente nos deparamos com puxadinhos e reformas caretas, e a discussão crítica avançou.

Mas encomendas a celebridades ainda surgem. No mês passado, um novo lar para o Museu de Arte de Aspen, projetado pelo arquiteto japonês Shigeru Ban, ganhador do Prêmio Pritzker de 2014, abriu suas portas.

O prédio tem suas virtudes, e não são poucas; ele também incorpora alguns dos absurdos e contradições que deram má fama à "arquitetura das estrelas".

Porém, o próprio museu de Aspen, visto como instituição -com tamanho modesto, sem colecionar obras de arte e oferecendo entrada franca-, oferece potencialmente um modelo de trabalho para o museu ideal do século 21.

O espaço específico, nesse caso, já é promissor. Aspen, no alto das Montanhas Rochosas, é fisicamente linda. Socioeconomicamente, é um lugar muito estranho.

Fundada como garimpo de ouro e prata no século 19, agora é reduto de um percentual significativo da elite financeira. Dezenas dos 400 bilionários da "Forbes" possuem propriedades aqui.

Levando-se em conta que alguns desses bilionários -Gustavo Cisneros, Leonard Lauder etc- são grandes colecionadores de arte, faz sentido que a cidade, apesar do seu caráter remoto e de ser primordialmente uma estação de esqui, tenha um museu de arte, ainda que o hoje existente seja muito diferente do que já foi.

Originalmente, o Museu de Arte de Aspen foi inaugurado em 1979, com uma só galeria instalada em uma antiga usina hidrelétrica. Durante anos, a maioria das exposições era de artistas locais, incluindo mostras estudantis.

Com a chegada de Heidi Zuckerman Jacobson como diretora e curadora-chefe, em 2005, essa identidade foi alterada. Ela organizou exposições de jovens figuras e artistas internacionais. Depois de instituir um conselho de apoiadores, ela propôs transferir e ampliar o museu. Em 2007, a instituição contratou Ban.

Até então, ele nunca havia construído um museu permanente. Sua reputação se devia principalmente a criativos projetos de habitação temporária para vitimas de desastres, usando materiais baratos e recicláveis: tubos ocos de papelão, papel tratado, lonas, plásticos. Ele aplicou essa tecnologia na África, na Índia e no Japão.

O prédio que ele entregou é curioso, ao mesmo tempo feio e bonito: um cubo de vidro de três pavimentos, encoberto por uma espessa treliça de papelão impermeabilizado. Onde alguns veem a inspiração da cestaria japonesa outros enxergam uma sombria gaiola de agachamento, dessas de academia de ginástica.

O edifício está espremido num acanhado terreno de esquina, no centro da cidade, enfatizando tanto o volume da estrutura, com 3.066 metros quadrados, e seu isolamento em relação aos edifícios vizinhos, em estilo vitoriano.

O interior, por outro lado, é convencional, com três andares de galerias brancas e lisas, como caixas, acima das quais ficam um restaurante e um terraço com vista para as pistas de esqui. Elementos característicos dos projetos de Ban para zonas de desastre foram incorporados por toda parte.

E uma das várias exposições inaugurais do edifício busca associar o museu aos muitos projetos assistenciais do arquiteto.

A exposição é comovente, com fotos e exemplos em escala real de barracas que ele criou para locais castigados no mundo todo, de Ruanda a Nova Orleans.

Mas a exposição não tem nenhuma relação substancial com a construção de US$ 45 milhões (R$ 111,6 milhões) onde se encontra.

Os fundadores do Museu de Arte de Aspen tiveram a sabedoria de criar um museu que não coleciona obras e que atende à comunidade, no modelo europeu da "Kunsthalle", que assegura que mesmo moradores de cidades pequenas tenham acesso à arte.

E uma "Kunsthalle" como o Museu de Arte de Aspen deveria abrir espaço para artistas mais próximos da sua sede, ajudando assim a romper a tradicional hegemonia dos centros artísticos.

Nem todas as instituições desse tipo precisam dos US$ 74,6 milhões (R$ 185 milhões) que Jacobson arrecadou para o seu museu. Aliás, seria possível argumentar que uma instituição modesta seria melhor para a arte, incentivando decisões mais arriscadas.

Mas o mais importante em primeiro lugar é ter a vontade de acreditar, a vontade de tratar as coisas locais -o que está aqui- como algo importante, ao invés de perpetuar o mito de que coisas inovadoras, relevantes e valiosas só podem surgir alhures.


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