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New York Times

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Inteligência/Roger Cohen

Dinossauros absolutistas

Londres

A Primavera Árabe derrubou muitos dinossauros do mundo árabe e, agora, dois anos depois, é hora de enfrentar os dinossauros do movimento nacional palestino que ainda se aferram a uma doutrina de aniquilação, 65 anos após a criação do moderno Estado de Israel.

Esses dinossauros evocam as Cruzadas para perpetuar uma batalha perdedora pela Terra Santa, ao mesmo tempo em que uma liderança palestina séria, não violenta, que olha para o futuro, está disposta à conciliação e já construiu os alicerces de um Estado.

Kahled Meshal, o líder do Hamas, fez um discurso terrível no mês passado, em sua primeira visita à Faixa de Gaza. Em vez de propor uma visão séria do futuro, ele declarou: "A Palestina é nossa, do rio ao mar e do sul ao norte. Não haverá concessão alguma de terra. Nunca vamos reconhecer a legitimidade da ocupação israelense. Não há legitimidade para Israel."

Esse é o tipo de discurso que vem tendo um impacto desastroso sobre a busca legítima dos palestinos pela criação de seu Estado, desde que, em 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas aprovaram a resolução 181, pedindo uma partilha da Palestina do Mandato Britânico e a criação nessa área de dois Estados, um judaico e um palestino.

No Estado judaico proposto, ocupando 55% do território, haveria meio milhão de judeus e uma minoria árabe de cerca de 450 mil pessoas. No Estado palestino, em 42% do território, haveria cerca de 700 mil árabes e menos de 30 mil judeus. Na área de Jerusalém, sob o controle da ONU, com acesso garantido a todos os locais religiosos, viveriam cerca de 200 mil pessoas divididas mais ou menos igualmente entre judeus e árabes.

Ao todo, aproximadamente 630 mil judeus estariam diante de cerca de 1,3 milhão de árabes.

Os judeus fizeram festa, enquanto os árabes partiram para a guerra e perderam. Agora, várias guerras mais tarde, Meshal ainda está jurando resistência total contra um Estado de Israel dinâmico, próspero e dotado de armas nucleares, enquanto o acordo oferecido aos palestinos vai se erodindo sem parar. Um ditado frequentemente atribuído a Einstein define a insanidade como sendo repetir sempre a mesma coisa, mas esperar resultados diferentes.

Enquanto isso, o presidente palestino Mahmoud Abbas e seu laborioso primeiro-ministro Salaam Fayyad estão entre os que deixaram claro que reconhecem o Estado de Israel. Eles estão dispostos a aceitar um acordo seguindo o traçado de 1967, com trocas de território acordadas, e já rejeitaram a violência, aderindo à governança responsável que entende que qualquer Estado viável precisa deter o monopólio do uso da força e não pode tolerar milícias freelancers.

A Cisjordânia controlada pelo Fatah vem crescendo. O Banco Mundial a declarou pronta para assumir o status de Estado.

Essas conquistas foram reconhecidas insuficientemente ou a contragosto em Israel, onde a queixa de que não há interlocutor palestino viável com frequência é usada para camuflar o esforço para continuar a dominar todo o território entre o mar Mediterrâneo e o rio Jordão -um objetivo ao qual atende a expansão contínua e inaceitável dos assentamentos.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já falou em dois Estados, mas seu discurso é pouco convincente. Não faltam absolutistas também em Israel.

Mas a maioria da população dos dois lados está disposta a encerrar os 65 anos de destruição e avançar por meio de um acordo com concessões.

No Egito, um homem conduzido ao poder pela Primavera Árabe, Mohamed Mursi, poderá exercer um papel importante. Vieram à tona recentemente declarações repugnantes que ele deu em 2010, quando era chefe da ala política da Irmandade Muçulmana.

Ele descreveu os sionistas como "sanguessugas que atacam os palestinos, provocadores de guerras, descendentes de macacos e porcos". É antissemitismo desprezível, comparável ao "libelo de sangue", e equivale à receita de Khaled Meshal para uma guerra sem fim no Oriente Médio.

Enquanto estava na oposição, Mursi podia dizer o que quisesse. Mas, com o poder, veio a responsabilidade. Um aspecto importante da Primavera Árabe consiste precisamente em obrigar líderes e partidos islâmicos a fazer concessões. Mursi já demonstrou em Gaza a capacidade de mediar entre israelenses e palestinos.

A Primavera Árabe buscou o empoderamento dos árabes. Israel desvia a atenção dessa tarefa monumental. Mursi pode mostrar o caminho a seguir, ajudando a unir o movimento palestino sob a bandeira da não violência, do crescimento e dos acordos territoriais. Para isso, é preciso que ele extirpe seu dinossauro interior e que mande para o escanteio os dinossauros dos outros.

Uma tática perdedora na busca dos palestinos pela criação de seu Estado

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intelligence@nytimes.com


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