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New York Times

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Obra chinesa põe o Laos em perigo

JANE PERLEZ BREE FENG

OUDOM XAI, Laos - Wang Quan, um chinês que recentemente virou o proprietário de um hotel nesta cidade agrícola escondida nas montanhas tropicais do norte do Laos, espera que os primeiros dos 20 mil trabalhadores chineses que irão trabalhar na construção de uma nova ferrovia na região cheguem logo.

A obra, financiada por chineses, irá ligar o sul da China à baía de Bengala, em Mianmar, passando por Bancoc, na Tailândia. Ela permitirá uma significativa expansão do já intenso comércio da China com o Sudeste Asiático.

Em pouco tempo, Wang fará fortuna com a chegada de tantos chineses à cidade.

Embora o projeto da ferrovia tenha enfrentado sérias objeções de organizações internacionais de desenvolvimento, a maioria dos especialistas acredita que ele deve mesmo sair do papel nos próximos meses.

É que a China o considera vital para a sua estratégia de trazer o Sudeste Asiático para mais perto de sua órbita e de fornecer a Pequim mais uma rota para o transporte de petróleo do Oriente Médio.

A ferrovia ligará Kunming, a capital da província de Yunnan, no sul da China, a Vientiane, capital do Laos. Para isso, passará por Oudom Xai.

"O grande objetivo é Bancoc", disse George Yeo, presidente da Kerry Logistics Network, importante companhia asiática de frete e distribuição.

"É um mercado enorme, com muitas oportunidades. Isso permitirá que a China evite o estreito de Malacca", um potencial gargalo entre o oceano Índico e o litoral chinês.

Mas, segundo os críticos, muita da riqueza gerada pela ferrovia de 418 km deverá ir para a China, enquanto a nação anfitriã terá de arcar com a maior parte do custo.

O orçamento do projeto, de US$ 7 bilhões, é quase igual ao modesto PIB laociano, de US$ 8 bilhões por ano.

Uma avaliação feita por um consultor do Programa de Desenvolvimento da ONU concluiu que os termos do financiamento oferecido pelo Banco de Exportação e Importação da China são tão onerosos que "colocam em perigo a estabilidade macroeconômica" do Laos.

Ao mesmo tempo, as obras podem transformar o norte do Laos em "um lixão", segundo o relatório.

O consultor conclui que, se aceito nos termos oferecidos, a obra será para o Laos "um caro equívoco". Como garantia de crédito, o Laos terá de oferecer à China minérios como potassa e cobre.

Mesmo assim, a Assembleia Nacional laociana aprovou o projeto como parte de um acordo ferroviário transasiático bem mais amplo, assinado em 2006 por quase 20 países do continente. Embora as deliberações do Partido Comunista que governa o Laos sejam pouquíssimo transparentes, diplomatas daqui dizem que o projeto tem como principal apoiador o vice-premiê Somsavat Lengsavad, ligado à China.

O comércio chinês com o Sudeste Asiático atingiu quase US$ 370 bilhões em 2011, o dobro do que os EUA registraram no mesmo ano.

A China prevê que até 2015, quando os países do Sudeste Asiático pretendem concluir sua integração econômica, seu comércio com a região chegará a cerca de US$ 500 bilhões.

O Laos é um trampolim perfeito para as ambições regionais da China. Pequim tem despejado novos investimentos na capital, inclusive dezenas de mansões construídas à margem do rio Mekong e um luxuoso centro de convenções.

Alguns laocianos, descontentes com a inconfundível presença chinesa, queixam-se de que o país está virando praticamente uma província da China ou, mais furtivamente, um Estado vassalo. Mas a oposição às políticas do governo costuma ser silenciada.

A diretora da ONG suíça Helvetas recentemente foi expulsa do Laos, acusada de ter uma atitude inamistosa com o governo por denunciar a situação de camponeses do país que foram obrigados a vender suas terras a preços baixíssimos.

Em Vientiane, o diretor laociano do Centro Participativo de Treinamento para o Desenvolvimento, um grupo da sociedade civil, desapareceu em dezembro após participar de um fórum onde foram discutidas questões fundiárias.

Aqui em Oudom Xai, onde uma escola de mandarim fundada por empresários da China tem 400 alunos, Wang, o dono do hotel, diz estar confiante de que o projeto irá começar logo.

Ele contou que, desde que chegou ao Laos, três anos atrás, também adquiriu uma serraria.

Imigrantes chineses já arrendaram cerca de metade das terras agrícolas nos arredores da cidade, segundo ele.

"Você pode alugar terras pelo número de anos que seu dinheiro permitir", disse Wang. "As pessoas aqui reconhecem o dinheiro, não as pessoas."


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