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New York Times

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Lente

O mito da fuga fiscal

A história de milionários que fogem para refúgios amistosos é conhecida quando aumentos de impostos estão na agenda. A visita de Gérard Depardieu a Moscou para aceitar a cidadania honorária do presidente Vladimir Putin no início de janeiro -em protesto contra um aumento proposto na alíquota máxima de imposto de renda de 75% na França- ganhou manchetes.

Desde então, Depardieu foi visto dançando música folclórica tchetchena em Grozny no final de fevereiro, logo depois de se registrar como residente em Saransk, uma cidade próxima, de 300 mil habitantes, a cerca de 650 quilômetros de Moscou. Ele diz que pretende se mudar para lá, longe das multidões de Moscou, construir uma casa e aprender russo. Também, supostamente, guardar mais de seus euros pagando um imposto fixo de 13%.

No entanto, a decisão de Depardieu é rara.

A noção de fuga fiscal "é quase totalmente falsa -é um mito", disse ao "Times" Jon Shure, diretor de estudos fiscais estatais em um grupo de pesquisa em Washington. "A cobertura anedótica faz parecer que as pessoas estão saindo em bandos por causa dos impostos. Não estão. Existem muitos países com impostos baixos, e você não vê milionários correndo para lá."

A Califórnia acaba de instituir impostos maiores para os mais ricos -de 13,3%, são os mais altos dos Estados Unidos-, para ajudar a superar uma antiga lacuna orçamentária. Isso provocou a irritação do golfista profissional Phil Mickelson, que sugeriu que talvez esteja na hora de se mudar para a Flórida, onde mora seu colega Tiger Woods, que não tem imposto de renda estadual.

David Geffen, o magnata do entretenimento, disse ao "Times": "Estou feliz em pagar meus impostos, seja qual for o valor". Ele tem propriedades à beira-mar em Malibu e em Beverly Hills e disse que acha que os impostos podem prejudicar o clima dos negócios, mas acrescentou: "Não acho que alguém com meios realmente vá se mudar por causa disso".

É improvável que os ricos se mudem pelo mesmo motivo que as pessoas de classe média ficam em seu lugar. Eles gostam de suas casas, seus amigos moram perto, seus filhos estão na escola, seus empregos são ligados ao lugar onde moram e fazer mudança é um estorvo.

Cristobal Young, professor assistente de sociologia na Universidade Stanford, disse ao "Times" que "empreendedorismo e poder aquisitivo estão agrupados em regiões altamente competitivas como o Vale do Silício, Los Angeles e a cidade de Nova York. As pessoas que ganham mais de 1 milhão geralmente estão perto de sua idade mais rentável e gozam os frutos de investimentos profissionais de longo prazo. É difícil abandonar essas coisas".

Mas o voo de Depardieu para o Leste tem uma longa tradição, pois a generosidade da Rússia já atraiu celebridades francesas ao longo dos século. Catarina, a Grande, comprou a biblioteca do filósofo francês indigente Denis Diderot, relatou o "Times", e lhe ofereceu um salário para ser seu bibliotecário em São Petersburgo em 1773.

O convite de Catarina chegou em um momento em que os reis se exibiam buscando a orientação de filósofos. Para Diderot, cujo tratado sobre o governo afirma que a natureza e a razão deveriam conduzir os governantes a criar mais liberdades para seus súditos, o convite para influenciar a imperatriz era bom demais para recusar. Além disso, ele estava quebrado.

Catarina ficou entusiasmada com a amizade de Diderot, mas desprezava seu idealismo. "Se eu tivesse seguido seu conselho", teria dito ela, "tudo estaria de ponta-cabeça em meu reino."

TOM BRADY


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