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New York Times

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Inteligência - Robert Kuttner

Reescrevendo o roteiro

O presidente Barack Obama iniciou seu segundo mandato de forma mais assertiva. Mas a situação econômica e fiscal subjacente não é um bom presságio para ele e para os democratas. Grande parte dessa armadilha foi montada pelo próprio Obama.

A economia americana deve continuar fraca até a próxima eleição para o Congresso, em novembro de 2014. Eleições parlamentares após seis anos de governo de um presidente são notoriamente ruins para o partido no poder.

Nesta era política, tal vulnerabilidade parece paradoxal, porque a maioria das posições republicanas a respeito de questões cruciais, como previdência e saúde, não são populares junto ao eleitorado. Além disso, as tendências demográficas favorecem os democratas. O eleitorado está se tornando menos branco, menos sulista, menos rico e menos conservador culturalmente -em suma, menos republicano.

Eleitores jovens tendem a se alinhar com os democratas em questões como casamento homossexual, direitos reprodutivos e reforma imigratória. Se os democratas pudessem simplesmente saltar a atual crise econômica e avançar o relógio para 2024, seriam o partido majoritário forte.

Mas o presidente se comprometeu com um caminho econômico de cortes orçamentários que prenuncia uma recuperação dolorosamente demorada, com pouca geração de renda e emprego.

Em 2011, depois de uma expressiva vitória republicana nas eleições legislativas, Obama aceitou a chamada Lei do Controle Orçamentário, que exigia medidas para a redução do deficit ao longo de dez anos. A lei se baseava na noção de que grandes déficits orçamentários causaram uma recessão, não o contrário.

A lei previa um corte de US$ 1,2 trilhão nos gastos públicos em uma década. A primeira parcela do chamado "sequestro orçamentário", no valor de US$ 85 bilhões, será executada automaticamente no começo de março, a não ser que o Congresso e o presidente cheguem a um acordo sobre cortes em escala semelhante.

As manobras políticas dominam Washington há semanas. O Departamento Orçamentário do Congresso projeta que o crescimento neste ano poderia ser de respeitáveis 3% -mas que o "sequestro" deverá reduzir isso pela metade. Obama tem alertado aos republicanos que, se eles não aceitarem uma alternativa ao "sequestro", correm o risco de matar a recuperação e de cortar serviços básicos.

Mas os republicanos parecem aceitar esses riscos, pois sabem que, quando o governo para, os eleitores tendem a culpar os dois partidos. Além disso, um governo enfraquecido serve aos seus propósitos ideológicos de longo prazo. Os republicanos também calculam que os democratas provavelmente sofrerão prejuízos nas urnas em 2014 se a economia estiver numa fase ruim.

A despeito dos resultados da batalha pelo "sequestro", no fim das contas provavelmente haverá mesmo cortes da ordem de US$ 85 bilhões neste ano. Então, um eventual acordo pode ter sobre a economia o mesmo efeito depressivo que o "sequestro".

Isso, infelizmente para os democratas, provavelmente será o roteiro anual no resto do governo Obama. O "sequestro" não é um duelo "de uma vez por todas", mas o primeiro ato de uma série de escaramuças com algo em comum: elas desaceleram a recuperação e negam recursos aos investimentos públicos.

Se Obama pode mudar esse roteiro? Ele pode tentar alterar o foco para questões que dividem os republicanos e unem os democratas, como a reforma da imigração, os direitos iguais para os gays e os impostos mais altos para os ricos, como forma de poupar os programas públicos mais valorizados pelo eleitorado. Ele pode mudar de assunto, enfatizando áreas onde foi bem, como a política externa.

Mas essa estratégia não compensará o agravamento da fraqueza econômica, situação pela qual os presidentes geralmente levam a culpa.

Obama pode tentar alterar esse impasse convencendo a opinião pública de que a recuperação está mais vulnerável agora do que os economistas previam em 2011 e de que novas ameaças, como o aumento do nível dos mares, exigem investimentos adicionais que também serviriam para gerar emprego e crescimento. Ele precisaria argumentar que a lógica econômica do "sequestro" foi ultrapassada pelos fatos, que ficamos obcecados com o problema errado e a cura errada.

O presidente anda bem mais inquieto do que no seu primeiro mandato, mas terá ousadia suficiente para repudiar algumas das suposições que tanto prezava? Seu legado poderá depender disso.


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