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Títulos desafinados

Manchete errada de quinta-feira não é o único exemplo grave de descompasso entre títulos e textos

Muita gente só lê a "Primeira Página" do jornal. Quando o dia está muito corrido, dá uma olhadinha apenas nos títulos. Daí a importância dessa vitrine, que expõe as principais notícias, as reportagens exclusivas e os melhores artigos.

Todo cuidado é pouco com a capa. Nem seria preciso dizer que exatidão é fundamental, mas é útil repetir depois da manchete errada de quinta-feira passada.

O título dizia que "Vereadores de SP aprovam fim da inspeção veicular", mas isso não é verdade. O que ficou acertado na Câmara é a dispensa de fiscalização dos carros novos, que correspondem a apenas 30% da frota, segundo estimativa publicada pela própria Folha.

Vários leitores perceberam o exagero. "Você lê a manchete e fica feliz, mas, quando passa para a reportagem, percebe que não tem nada a ver. Parece até que tem dedo do Haddad no meio", disse o economista Fernando Ianda, 69.

Uma correção discreta, sem menção na "Primeira Página", foi publicada anteontem.

Se a manchete de quinta-feira soava favorável ao PT, os equívocos, no dia anterior, tiveram o efeito contrário. A chamada sobre as chuvas era "Dilma gasta só um terço da verba para tragédias", mas o texto mostrava que não era bem assim.

A reportagem, sobre o represamento de verbas destinadas a prevenir e a combater enchentes como as que atingiram Petrópolis, informava que a responsabilidade é dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal).

O segundo parágrafo já deixava isso claro: "Só um terço da verba federal reservada para esse objetivo foi gasto no ano passado, situação causada principalmente por entraves burocráticos com Estados e municípios no repasse dos recursos e elaboração de projetos".

Um pouco mais à frente, os repórteres afirmavam que "o governo federal compartilha com Estados e municípios a dificuldade de usar o dinheiro reservado no orçamento para esse fim".

O título correto estava no caderno "Cotidiano": "País só gastou um terço da verba destinada a desastres em 2012". "O jornal decidiu imputar a culpa toda a Dilma. A escolha das palavras na capa deixou isso claro. Se a Folha vai fazer campanha contra, deveria dizer explicitamente", criticou o administrador de empresas Marcello Bloisi, 46.

Nessa mesma quarta-feira em que "Dilma" apareceu indevidamente na chamada de chuvas, o nome da presidente sumiu do título sobre a sua popularidade. Saiu "Aprovação do governo federal alcança 63%, indica pesquisa".

A notícia era o levantamento do Ibope que mostrou um recorde na avaliação do atual governo. O que havia para ser ressaltado era a presidente, candidatíssima à reeleição. Ficou a impressão de que só quando a notícia é negativa o sujeito da oração é "Dilma".

Títulos que não correspondem aos textos são um problema recorrente no jornal. "Ministra crê que Jango tenha sido morto" era uma das notícias principais da terça-feira em "Poder". Estava errado.

Maria do Rosário, da pasta de Direitos Humanos, afirmou que há "possibilidade muito clara de que o presidente João Goulart tenha sido assassinado". Entre levantar a possibilidade de algo e acreditar que aquilo aconteceu, vai uma certa distância, ignorada por quem forçou a mão ao fazer o título.

Uma das acusações que mais se ouvem é que a imprensa exagera para vender mais jornal, aumentar a audiência ou bater recordes de page-views. "Tenho um palpite de que a Folha só tem profissionais competentes e, por isso, sou obrigado a acreditar que os 'erros' são propositais, uma forma de buscar leitores neste momento crítico para as mídias impressas", escreveu o geólogo Luiz Antonio Pereira de Souza, 56, sobre a manchete errada.

A melhor forma de rebater esse tipo de afirmação é ser rigoroso com a precisão. Como diz o ditado, contra fatos, não há argumentos.


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